A Câmara do Funchal gastou rios de dinheiro a financiar um laboratório de e-games no antigo matadouro do Funchal. Finalmente, uma prioridade! Porque, claro, numa cidade com problemas de habitação, mobilidade caótica, comércio local a morrer e bairros esquecidos, o que o povo realmente precisava era... um torneio de videojogos.
Mas não é qualquer torneio, atenção! Estamos a falar de e-games, essa palavra mágica que transforma qualquer evento em “futuro”, mesmo que o evento seja basicamente um pavilhão com miúdos a jogar Fortnite e meia dúzia de consolas emprestadas. Tudo embrulhado numa estética cyberpunk com luzes LED para parecer mais tecnológico. Porque se brilha, deve ser inovação, certo?
E quem ousa criticar é logo acusado de ser “contra o progresso” ou “não entender as novas gerações”. Como se questionar gastos públicos absurdos fosse coisa de velho do Restelo. Não, o problema não é o gaming. O problema é fingir que gastar dezenas (ou centenas) de milhares de euros nisto vai trazer desenvolvimento económico, inclusão social ou turismo digital.
O que se ganha, afinal?
Um fim de semana de selfies, uma reportagem local cheia de chavões (“a Madeira a caminho do futuro digital”), e meia dúzia de influenciadores pagos para dizer que “o Funchal está na vanguarda”. Depois tudo se desmonta, arruma-se as consolas, e voltamos à cidade real: prédios a cair, rendas impagáveis, lixo acumulado e ruas onde nem a internet funciona direito, quanto mais os sonhos de metaverso da vereação.
Mas há uma lógica nisto tudo: o investimento em e-games serve como anestesia. Enquanto os jovens jogam, não protestam. Enquanto há um evento com prize money, ninguém pergunta porque é que há tantas famílias à espera de apoio social. E enquanto há torres de som a anunciar o "Funchal Digital", ninguém repara nos bairros que continuam presos ao analógico da miséria.
Chamam-lhe “visão de futuro”. Eu chamo-lhe realidade aumentada com vergonha diminuída.
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