Os tampões do Chega: IL no continente e JPP na Madeira


E stá mais do que esclarecido e "cimentado" de que os partidos tradicionais vão a enterrar. Mesmo sabendo do seu erro, não conseguem inverter devido às clientelas que os puseram no poder. Só partidos novos e sem vícios é que vingam na luta contra o sistema e as suas clientelas, vamos vendo o sucesso do Chega, do Livre, do JPP e em certa medida o IL que vai esmorecendo.

Talvez no continente se confirme o que vem sendo dito, que o IL e o JPP são tampões para o crescimento do Chega, porque o PSD é cada vez mais fornecedor de quadros ao Chega e porque o Livre é um sucedâneo refinado do PS, este último também tem os seus problemas (no continente) devido ao sistema.

Em Portugal continental, o PS e o PSD têm dominado o panorama político durante décadas, mas enfrentam crescentes desafios. Há uma perceção de envelhecimento das estruturas partidárias, de falta de renovação de ideias e de uma ligação excessiva a grupos de interesses ou redes de influência. Esta situação gera uma desilusão generalizada com a política tradicional e uma busca por alternativas.

É neste contexto que surgem e ganham força partidos "novos e sem vícios". O Chega é o exemplo mais flagrante desse fenómeno, com um crescimento eleitoral exponencial. Mas também o Livre (embora com uma base ideológica e eleitoral distinta) e o JPP na Madeira ilustram esta dinâmica de busca por algo diferente.

No continente, a Iniciativa Liberal surgiu com uma proposta de liberalismo económico e social, atraindo um eleitorado insatisfeito com a social-democracia e a socialização da economia. Este eleitorado, muitas vezes jovem, urbano e com formação superior, partilha com o Chega o descontentamento com o status quo e com a corrupção, mas diverge na abordagem.

A IL oferece uma alternativa mais moderada e com uma roupagem mais "sofisticada" para aqueles que querem uma rutura com o sistema, mas que não se reveem nas posições mais radicais ou conservadoras do Chega. A sua linguagem e propostas são menos confrontacionais e mais focadas na eficiência económica e na liberdade individual. Neste sentido, a IL pode, de facto, captar votos que, de outra forma, poderiam migrar para o Chega, atuando como um "tampão" para uma fatia do eleitorado mais moderado da direita. O enfraquecimento do PSD contribui para que tanto o Chega como a IL disputem o mesmo "espaço órfão" de eleitores.

Na Madeira, o JPP é um fenómeno interessante, "sem ideologia" definida no sentido tradicional. Nasce do descontentamento local com os partidos tradicionais (principalmente o PSD, que governa a região há muito tempo) e foca-se em questões pragmáticas, na luta contra as elites regionais e na proximidade com a população. Esta abordagem anti-sistema e populista (no sentido de apelo direto ao povo) é a chave do seu sucesso. A ausência de uma ideologia rígida permite ao JPP açambarcar um eleitorado muito vasto e heterogéneo, desde eleitores de esquerda a eleitores de direita, todos unidos pelo cansaço com o poder estabelecido. Nesse sentido, o JPP na Madeira pode, de facto, funcionar como um forte "tampão" ao Chega. Ambas as forças apelam ao descontentamento e à rutura, mas o JPP fá-lo com uma agenda mais focada nas especificidades regionais e sem as conotações mais radicais ou xenófobas que por vezes se associam ao Chega. O eleitorado madeirense insatisfeito, que procura uma voz de protesto, pode encontrar no JPP uma opção mais "segura" ou mais "local" do que o Chega.

Embora o Livre se posicione mais à esquerda do PS em muitas matérias (como ecologia, direitos civis e questões sociais), atrai um eleitorado progressista, mais urbano, intelectualizado e, por vezes, desiludido com o pragmatismo e as concessões do PS. O Livre é um partido das grandes cidades. Se o PS é percecionado como um partido com problemas devido ao sistema, ou seja, envolto nas mesmas clientelas e vícios dos partidos tradicionais, o Livre oferece uma alternativa de esquerda com uma imagem de maior integridade e renovação. Assim, tal como a IL pode ser um "tampão" à direita, o Livre pode, por um lado, captar votos que de outra forma iriam para o PS, e, por outro, evitar que o eleitorado de esquerda mais crítico se sinta tão desesperado ao ponto de se abster ou procurar opções ainda mais radicais. Nunca nos esqueçamos da conversão de bastiões da CDU ao Chega.

A ideia de que IL e JPP atuam como "tampões" para o Chega tem origem dinâmica atual da política portuguesa. O enfraquecimento dos partidos tradicionais abre espaço para novas forças, mas a forma como esse espaço é ocupado difere. Enquanto o Chega capitaliza o voto de protesto mais radical e populista, a IL oferece uma via de rutura pela direita mais moderada, e o JPP, pela via do protesto regional e pragmático na Madeira, sem as conotações ideológicas mais fortes. Esta pulverização do voto de descontentamento é um fator crucial para entender a evolução do mapa político em Portugal.

A democracia está a evoluir, consequência natural da busca por diferentes tipos de representação, é que os partidos tradicionais não saem da sua zona de conforto.

Tudo isto serve para dizer que se os partidos tradicionais atacarem estes partidos, o país vira para a extrema-direita. Alguns partidos tradicionais só pensam em si e acham-se o centro da democracia, as últimas legislativas nacionais não disseram isso.

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