O Parque de Santa Catarina é, sem dúvida, um dos ex-líbris do Funchal, um espaço verde vital para a cidade e um ponto de encontro. Recordo que era de acesso livre 24/7, depois vedaram para a sua proteção. A piada é que agora vedado está mais degradado porque é a CMF que permite tamanha frequência de eventos que o "desterram". Pergunto se a vedação foi um investimento público para garantir melhor controlo dos eventos e não para a proteccão do parque. Para além disso, ainda ninguém se convenceu que a barulheira chega ao hospital? Mas o que venho aqui dizer é que a imagem de um "ervado" amarelado e seco é um sinal de alerta claro. O que acontece ali é um exemplo micro do que pode ocorrer em escala macro.
Cada espaço natural ou semi-natural tem uma capacidade de carga, ou seja, um limite de uso que pode suportar sem sofrer danos irreversíveis. No Parque de Santa Catarina, a frequência de eventos, embora economicamente atrativa, parece ter excedido essa capacidade, resultando na degradação da relva que, por acaso, é um "ervado". A capacidade de carga foi ignorada. O mesmo está-se a passar nas Levadas e Trilhos, por mais que o "malcriado" tente argumentar.
Se no Parque de Santa Catarina há uma luta entre a Prioridade do Evento vs. Prioridade da Preservação nos Trilhos e Levadas é igual! Por ventura já não há madeirenses para aturar o pandemónio para denunciar. Deixou de ser idílico. A insistência em realizar eventos no "ervado", mesmo com os sinais visíveis de degradação, sugere que o benefício imediato dos eventos está a sobrepor-se à necessidade de preservar o próprio espaço. VAI, ESTÁ A ACONTECER O MESMO NOS TRILHOS E LEVADAS. NÃO TÊM CAPACIDADE DE GENERAÇÃO, E ENTÃO O FANAL!!!
A intervenção de Raimundo Quintal, uma figura com conhecimento profundo da natureza e da cultura madeirense, ganha ainda mais peso neste contexto. É a voz da razão que aponta para um desequilíbrio, mas calculo que como todos aqueles que ousam dizer a verdade inconveniente passará por um radical ostracizado.
E assim vamos nós na Madeira, desacredita-se quem informa e diz a verdade.
O paralelo do Parque de Santa Catarina com os trilhos e levadas da Madeira é incisivo e alarmante. As levadas são um património único da ilha, testemunhos do engenho humano e ecossistemas frágeis, essenciais para o fornecimento de água e para a biodiversidade. Os trilhos que as acompanham são a porta de entrada para uma natureza exuberante e intocada que atrai milhares de turistas. Lembro que a função é distribuir água, ninguém pensou em turismo massificado! Agora inverteu-se a importância e já está aí os únicos do Silicon Valley da Madeira para ficar com tudo. Ao ficar com a parte turística ficam com as levadas e água... necessariamente.
O Eduardo Jesus é sem dúvida o pior secretário do turismo de sempre, e convencido! A característica natural e selvagem torna os trilhos e levadas especiais. Em vez de uma experiência imersiva na natureza, está-se a transformar os trilhos e levadas numa "linha de montagem" turística, perdendo a sua essência. E lá vem os exploradores fazer dinheiro com o que é de todos. Além do desgaste físico, há outros impactos, como a perturbação da fauna, a acumulação de lixo (mesmo que pontual), e a alteração dos ecossistemas mais frágeis junto às levadas. Os bichos também fogem das "manadas" em fila indiana. Quando locais tão especiais se tornam superlotados, corre-se o risco de ser banalizado. A beleza e a importância intrínseca perdem-se na multidão, e a experiência individual do visitante é diminuída.
Tenho a minha idade e gostava de ver turistas, agora odeio-os, interferiram na minha qualidade de vida, nos preços, tudo pela negativa. Sem esquecer que vêm mais selvagens. A Madeira não pode permitir que a "galinha dos ovos de ouro", a sua natureza exuberante e única, seja sacrificada em nome do turismo de massas desenfreado. A voz de Raimundo Quintal, neste contexto, serve como um importante aviso. O Parque de Santa Catarina um exemplo visível. Silêncio e Natureza é um bem raro na Madeira. A Madeira está a desaparecer, e os madeirenses também.
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