A Arte de Guerra do PSD nas Autárquicas de 2025


Estratégia Desmontada

E stamos a entrar no mês final das autárquicas e reina um silêncio ensurdecedor do lado do PSD, o chamado partido do poder. Enquanto os partidos pequenos, da esquerda à direita, lutam com unhas e dentes, despejando medidas, promessas e propostas em catadupa, o PSD mantém-se calado, quieto, aparentemente parado. Mas é o silêncio calculado de quem já não precisa de correr para chegar primeiro, porque já ocupa o centro do palco.

A tática é antiga, mas eficaz: não gastar energia a lançar ideias próprias, mas antes recolher, anotar e filtrar tudo o que os outros dizem. Os anotadores do partido estão atentos, caneta na mão, a registar cada promessa, cada slogan, cada medida que se solta na praça pública. Desses cadernos secretos vai nascer o “programa final” do PSD: uma amálgama de propostas alheias, recicladas e embrulhadas em papel laranja. Um mosaico de medidas testadas nos outros partidos, PS, JPP, Chega, IL ou CDU, e que serão apresentadas como sendo do partido do poder.

A arte de guerra do PSD é precisamente essa: esperar que os outros se exponham, queimar munições, revelar cartas, enquanto o “império” está sentado na sombra, a aquecer as máquinas. No momento certo, a engrenagem laranja dispara: estruturas montadas, porta a porta já organizado, distribuição de brindes, mobilização automática. É o arsenal tradicional de quem tem a máquina do poder instalada.

Mas há mais: o PSD joga também a guerra de guerrilha. Envia discretamente os seus “cães de ataque”, infiltrados que se ajustam à cor do alvo. Aos mais à direita, atiram provocadores para desgastar o Chega. Aos mais à esquerda, mandam agitadores para baralhar a JPP. Ao PS, ainda que enfraquecido, não falta quem o tente ferir. O PSD, partido eclético, que abarca desde simpatias mais sociais-democratas até tiques quase ultraliberais, tem sempre alguém preparado para incomodar cada rival. É a política de infiltração, de desgaste, de distracção.

O problema desta estratégia é que pode descambar em guerra nuclear. O PSD pensa ter armas nucleares, munições capazes de destruir qualquer adversário em segundos. Mas convém recordar: também os partidos pequenos, quando pressionados até ao limite, podem usar o mesmo tipo de recurso. E numa guerra nuclear não há vencedores: o terreno fica árido, sem nada para crescer, nem à esquerda nem à direita. É o deserto democrático, onde só sobra cinza. Por isso, o material nuclear deveria estar fora do jogo, sob pena de se trair a própria democracia.

A verdade é que, enquanto os partidos pequenos perdem tempo a atacar-se uns aos outros, ou a dar palco a ressabiados da política, ex-líderes com sede de vingança e protagonismo, o PSD, calado e paciente, vai recolhendo o ouro do inimigo. Quanto mais medidas originais, criativas e ousadas lançam os pequenos partidos, mais ideias vão parar ao cofre do partido do poder. É ouro oferecido ao bandido, matéria-prima para ser reciclada em programa eleitoral “popular”, já testado e aprovado nas sondagens informais.

No campo de batalha autárquico, esta é a verdadeira lição: os partidos pequenos não podem continuar a alimentar o gigante com as suas próprias ideias. Em vez de se destruírem mutuamente, deveriam concentrar-se numa campanha positiva, preservando o essencial das suas propostas e reforçando a sua identidade. Se não, no final, todo o esforço acabará por ser sequestrado pelo PSD, que se apresentará como o “pai” de medidas que, na realidade, nasceram no esforço alheio.

A arte de guerra do PSD está desmontada: silêncio estratégico, apropriação de ideias, ataque de guerrilha, reserva de armas nucleares e máquina logística afinada. Cabe agora aos partidos mais pequenos decidirem se continuam a combater uns contra os outros, enquanto o gigante recolhe calmamente os espólios, ou se finalmente entendem que a batalha não se ganha oferecendo munições ao adversário.

Porque se não houver cuidado, em outubro de 2025, o PSD terá ganho mais uma guerra sem nunca ter disparado a primeira bala.

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