C ausa-me uma enorme perplexidade a questão gerada pela Iniciativa Liberal em torno da nomeação de Marco Lobato para a presidência da Horários do Funchal. É verdadeiramente surpreendente que se questione a nomeação de um perfil com anos de experiência de liderança numa organização de elevada complexidade, como a PSP, para um cargo que exige... precisamente isso.
A principal crítica, ao que parece, é a de que Marco Lobato "não tem qualquer experiência conhecida na gestão de empresas". É uma afirmação fascinante. Parece que, para a Iniciativa Liberal, a gestão de centenas de recursos humanos, o planeamento operacional complexo para eventos de grande escala, a alocação de frotas e equipamentos sob pressão, o controlo orçamental de uma divisão inteira e a análise de indicadores para otimizar a segurança pública não contam como "gestão".
É irónico, porque é inequivocamente o que um Subintendente da PSP é, na sua essência, um gestor de topo. A sua função diária é, precisamente, planear, organizar, liderar e controlar. Ou será que a gestão de vidas, de crises e da segurança de uma cidade é uma forma menor de gestão, que não confere experiência relevante para gerir uma empresa de transportes?
Mas o argumento adensa-se: a falta de experiência em empresas… a história está repleta de líderes visionários que nunca tiraram um curso de gestão. Steve Jobs, Bill Gates e muitos outros, sem descurar o exemplo português de Rui Nabeiro…todos notoriamente falhados por não terem uma licenciatura específica em gestão ou economia. É de louvar que a Iniciativa Liberal se mantenha fiel à teoria de que apenas um diploma em gestão confere a capacidade de gerir ou liderar, ignorando por completo as competências essenciais que definem um líder: visão estratégica, resiliência, capacidade de decisão sob pressão e, acima de tudo, a mestria na gestão de pessoas e equipas complexas.
Em suma, a preocupação da Iniciativa Liberal é, no mínimo, curiosa. Questionar uma nomeação "política" para depois exigir um critério de "gestor de empresa" puramente académico é uma contradição deliciosa. É evidente que, para aquele partido, nomear um indivíduo com vasta experiência em liderar equipas, gerir recursos em cenários de alto stress e planear operações críticas de logística e segurança para uma empresa de transportes públicos é.… profundamente questionável.
É, no mínimo, notável o anterior silêncio ensurdecedor de Gonçalo Camelo e Sara Jardim no que respeita a questões relacionados com o transporte público na R.A.M. Assistiu-se a um curioso desaparecimento do debate público do tema por parte de quem sucedeu a Nuno Morna, outrora uma voz omnipresente sobre a matéria.
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