O ambiente anda quente. Dá para ver nas caras, nas bocas, nas redes, nos olhares atravessados. Gente que parecia sossegada agora já rosna. E os que sempre mandaram já se riem amarelo. Começou a época da nervoseira.
E quando isso acontece, aparecem logo os guionistas. Guião para o jornalista. Guião para o comentador. Guião para o presidente da associação lá do beco. Guião para os que juram que são neutros, mas estão até às orelhas no molho. Guião quando se apanha um microfone na mão. Guião para os tachistas. Guião para os especialistas em perfis falsos. Guião para as linhas editoriais. Guião para chefes e chefinhos na administração pública.
Está tudo ensaiado. Tudo com pose. Só que o povo, desculpem lá, já não vai nessa.
As pessoas estão caladas, mas não são tontas. Andam fartas. Atentas. E com mais memória do que julgam.
As caixas de correio estão cheias. Mas não é de cartas da EEM, algumas cheiram a mofo, guardadas com carinho.
A verdade é como as cerejas. Vem uma, depois outra, e mais outra, e quando se vê já está o cesto a deitar por fora. É como o Zarco ou Desde o Início, gente séria a fazer história.
Mesmo quietos, salta mais uma cereja bichada.
E desculpem a franqueza…
Os berdamerdas não têm vergonha na cara?
Acham que é com bocas, recadinhos, intrigas e joguinhos de bastidor que vão ganhar?
Perdem a razão, perdem o respeito, perdem o pingo de quase nada que ainda podiam ter.
E falemos claro:
Os corredores do poder são bonitos, dão sombra, dão estatuto. Mas não são só vossos.
Ali anda o povo. Os que cumprem ordens. Os que engolem sapos. Os que não podem dizer nada mas veem tudo.
Esses não são burros.
Estão calados. Mas sabem. Sentem. Guardam.
E quando decidem falar… falam com tudo.
Por isso, sosseguem o grelo.
Calma. Muita calma.
Porque se o baile começa, dançam todos.
Do chefe ao que segura a faixa.
Do que manda àquele que fingia que só passava ali.
E ninguém vai com sapatos especiais.
Quem vai para a lama, suja-se.
E quem empurra o porco, também leva.
Serve para todos.
Para quem se encosta a listas de última hora à procura de um lugar ao sol.
Para quem segura uma carteira no SESARAM sem saber se fica o dia inteiro ou só meio tempo.
Para quem passa à frente na fila da Segurança Social com um telefonema.
Para quem concede casa do IHM pela cor do cartão.
Para quem espera horas pelos Horários do Funchal e ainda ouve promessas.
Para os que passam os dias nas tascas, com a roupa a cheirar a filete de espada e a boca cheia de certezas.
Quem semeia ventos, colhe tempestades.
Ficam os bons conselhos.
De um amigo.
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