O novo hospital da Madeira, esse eterno “vai mas não vai” das obras públicas para o continente pagar, vai afinal custar mais 45% do que o previsto. Quarenta e cinco! Não é 4,5. Nem 5. É quase metade a mais. Aparentemente, na matemática da obra pública madeirense, 100 milhões valem 145 quando dá jeito. E ninguém se espanta. É só mais um dia normal no arquipélago da inflação seletiva.
O mais curioso? Não vi ninguém aplicar esse mesmo “coeficiente hospitalar” aos salários dos madeirenses. Ninguém decidiu, por exemplo, que o ordenado mínimo na Madeira devia subir 45% porque “os custos subiram”. Nenhuma entidade pública pensou em aumentar os salários dos enfermeiros, professores ou trabalhadores do privado em 45%, em nome da coerência. Parece que o milagre da multiplicação só se aplica ao betão, ao ferro e às promessas eleitorais.
Afinal, qual é a validade real das propostas orçamentais feitas aos governos? Se um hospital que já vinha a ser prometido há décadas (sempre com custos “bem calculados”) pode agora inflacionar quase metade do valor inicial, o que é que impede que o resto siga o mesmo caminho? O túnel que hoje custa 10 milhões, amanhã custa 14,5. A estrada de 20 milhões, sobe para 29. E os madeirenses continuam com os mesmos 800 e poucos euros no bolso, a ver tudo aumentar, menos o salário.
E a inflação? Oficialmente anda nos 2 ou 3%, dizem os especialistas. Mas o hospital está a 45%. Os materiais subiram, a mão de obra encareceu, as empreiteiras mudaram de ideias ou simplesmente "houve ajustes técnicos". E nós, os ajustados de sempre, lá vamos engolindo o sapo com molho de impostos e promessas.
Perguntas inocentes, as pedras das ribeiras não atenuam o orçamento? As quantidades não baixam preços? A mão de obra do Indostão não é barata?
Alguém entende que estes números não batem certo? É para consumir a maior arrecadação de impostos? No entanto, não há liquidez para pagar as comparticipações na Saúde!
No fundo, talvez esteja na altura de exigir mais coerência. Se a Madeira é capaz de absorver um aumento de 45% numa obra pública, então que tal aplicarmos esse mesmo índice aos salários? A chamada “inflação justa”. Ou, pelo menos, que se crie um novo índice económico: o IHAC — Índice de Hipocrisia Aplicada à Construção.
Até lá, os madeirenses continuam a fazer contas com os tostões de sempre, enquanto as obras contam-se aos milhões... e crescem 45% sem corar.
P.S.: só falta um litígio para dar uns trocos ao advogado do bom e do mau.
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