H oje, 12 de agosto de 2025, saí do Funchal e fui à Ribeira Seca para homenagear aquele que, durante 56 anos, foi pastor desta comunidade: Padre José Martins Júnior. Fui por respeito, não por obrigação — respeito por um homem que transformou uma paróquia numa casa de fé, cultura, escuta e entrega.
Cheguei ao adro e vi uma comunhão verdadeira: famílias, amigos, paroquianos, todos unidos em memórias e gratidão. A Tuna de Câmara de Machico interpretou composições do Padre Martins — cada nota um sopro de reverência e lembrança. Tive lágrimas na voz e nos olhos — porque a saudade se transformou em oração coletiva.
Mas havia um elemento — ausência — que falou mais alto que qualquer discurso: a ausência do atual pároco, Cónego Manuel Gonçalves dos Ramos. Num momento em que qualquer líder espiritual deveria estar presente, optou por não estar. Isso fala de distanciamento, frieza e falta de empatia. E não foi por falta de convite ou aviso — foi uma ausência consciente.
Paroquianos, em conversas francas, disseram-me com alívio: “Ainda bem que ele vai embora”. Contaram-me como ele não respeitou o legado do Padre Martins, como se fechou em si mesmo, e como tem alimentado boatos e mentiras para dividir a paróquia, armando-se em vítima e nunca assumindo responsabilidades. Alguns jovens confidenciaram-me que, depois de terem tomado posição pública contra as obras no adro, viram-se bloqueados e impedidos de comentar uma publicação recente do próprio pároco sobre o assunto, numa tentativa clara de restringir o contraditório e calar vozes discordantes.
E hoje, ironicamente, a igreja estava de portas abertas — ao contrário de há um mês, quando se assinalaram os 30 dias do falecimento do Padre Martins, e as portas permaneceram fechadas.
Este padrão não é novo. Já se viu recentemente na paróquia da Santa, no Porto Moniz, quando, após o furto das coroas das saloias, a Diocese reagiu publicamente mas o pároco, padre António Paulo, manteve-se em silêncio, deixando a comunidade órfã de liderança espiritual num momento crítico. Na Ribeira Seca, o mesmo comportamento repete-se: silêncio nos momentos que pedem presença, distanciamento quando se exige proximidade, e decisões unilaterais quando se esperaria diálogo.
Aliás, esta postura de fuga à responsabilidade também ficou evidente nas polémicas obras que destruíram o histórico jardim do adro — obras que geraram indignação na comunidade. O Cónego insiste publicamente que foram da responsabilidade da Câmara Municipal de Machico, quando o próprio presidente da autarquia já desmentiu tal versão. Tratando-se de um terreno da propriedade da Diocese, qualquer intervenção foi sancionada com a sua concordância. Esta insistência numa narrativa falsa apenas reforça a perceção de que prefere proteger a sua imagem do que assumir os atos que valida.
Hoje, olhando para as pessoas no adro, percebi que a Ribeira Seca continua unida — mas unida entre si, não em torno de quem a deveria liderar. E como mulher, digo: liderança sem escuta, sem proximidade e sem humildade não resiste. O respeito não se impõe; conquista-se pelo serviço, pela coerência e pela fé vivida em comunidade.
1 Comentários
Muito bem articulado.
ResponderEliminarAgradecemos a sua participação. Volte sempre.