É impressionante, quase inacreditável, a carreira errática do arquiteto fugitivo do IHM. Um homem que fez da fuga uma arte: fugiu da Câmara, fugiu da Secretaria, fugiu do IHM, e mesmo assim ainda encontra energia para atacar todos os que não lhe obedecem. A sua biografia política não é de realizações, mas de fugas: um fugitivo do poder, um fugitivo da responsabilidade, um fugitivo da coerência.
E, no entanto, este arquiteto fugitivo, que deveria estar a ser investigado, ou que, aliás, já poderá estar sob investigação, decidiu recentemente apontar as armas contra o principal partido da oposição de esquerda, o mesmo partido que, com dignidade, conseguiu conquistar representação no continente e trazer para o seu seio um dos grandes quadros formados na escola do PSD. A sua raiva não é política: é pessoal, é rancorosa, é a velha revanche de quem nunca conseguiu resolver os próprios fantasmas.
Este arquiteto do pó de talco esqueceu-se de algo fundamental: a origem é a mesma. Esqueceu-se que o militante que agora ataca também bebeu na fonte do PSD, também partilhou a escola política que ele próprio frequentou, mas teve a coragem de fazer um caminho diferente. E na democracia, essa conquista do 25 de Abril que ele parece ignorar, as pessoas são livres de mudar de partido, de cor, de lado.
Se a JPP recebe antigos militantes da direita, fá-lo porque entende que a pluralidade é riqueza. Se a esquerda acolhe quem já foi de direita, fá-lo porque acredita na conversão, na transformação e na possibilidade de futuro. Afinal, não foi sempre assim? Quantos grandes nomes da esquerda tiveram origem em espaços diferentes? Quantos deram esse salto de fé e de consciência?
O que este arquiteto fugitivo não perdoa é simples: a esquerda é hoje capaz de acolher quem o PSD rejeitou ou deixou escapar. E isso dói. Dói porque expõe a pobreza de um partido que vive refém das guerras internas dos dois grandes MAS, Miguel Albuquerque contra Manuel António, guerras que ele próprio nunca quis travar, preferindo a fuga coberta de pó de talco.
Este arquiteto fugitivo, ao atacar um membro da esquerda, não percebe que o seu alvo já não é apenas um homem: é um símbolo. É o símbolo da liberdade de escolha, da coragem de virar a página e de acreditar que na esquerda há espaço para recomeçar.
E se esta passagem da direita para a esquerda foi possível, não foi apenas por interferência política. Foi também fruto de uma conversão ideológica, coisa que o arquiteto fugitivo talvez desejasse para si próprio, e é talvez por isso que agora ataca com tanta inveja e ressentimento.
Ao arquiteto fugitivo restará o silêncio ou, se preferir, a continuação da fuga. Porque já não tem moral para perseguir quem ousou mudar de cor. Porque já não tem autoridade para atacar quem soube encontrar na esquerda uma nova casa. Porque, afinal, a democracia não é dele, nem dos MAS, nem do pó de talco: a democracia é de todos.
E este arquiteto, fugitivo do IHM, fugitivo da coerência e fugitivo da dignidade, ficará na história não como construtor, mas como fugitivo.
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