L i o vosso texto sobre a baixa na entrada de alunos na UMa (link) e gostaria de explorar o meu ponto de vista. Se repararem foi generalizado no país, só as Universidades mais categorizadas é que escaparam. Sem dúvida que a relação entre o custo de vida e a capacidade das famílias em sustentar os seus filhos no Ensino Superior é uma das mais diretas e preocupantes. Estamos a regredir, chegaremos com estas política a uma era antiga onde só os filhos de famílias tinham oportunidade de estudar? Então como é que nos vendem economia pujante e não se vê retorno?
A estagnação dos salários em Portugal, ou o seu crescimento insuficiente face à inflação, torna cada vez mais difícil para as famílias de baixos e médios rendimentos suportarem as despesas associadas ao ensino universitário. Isto não se resume apenas às propinas, mas também a livros, materiais, transportes e, crucialmente, habitação. Qual o político que vai criar uma narrativa para nos ludibriar? O famoso "não é bem assim".
O mercado de arrendamento tornou-se um dos maiores obstáculos. A subida vertiginosa dos preços, impulsionada em grande parte pelo Alojamento Local (AL), torna quase impossível para muitos estudantes, especialmente os que se mudam para as grandes cidades, encontrar alojamento acessível. O AL, ao converter habitação residencial em turística, retira oferta ao mercado de arrendamento de longa duração, aumentando a pressão sobre os preços. Para uma família que vive no interior e tem um filho a querer estudar em Lisboa ou no Porto, o custo de um quarto ou de um T0 pode facilmente consumir grande parte do rendimento familiar, tornando a universidade um luxo inatingível.
A emigração é outro fator crítico que tem um impacto direto no número de estudantes. Portugal tem visto uma saída contínua de jovens qualificados, e de outros em idade de procriar, em busca de melhores salários e condições de vida no estrangeiro. Há uma parcela de estudantes que já faz o curso superior fora para ter mais acesso a oportunidades de emprego. O país, tal como a Madeira, está amarrado a um modelo económico que não emprega quem forma?
Esta emigração não só reduz o número de potenciais candidatos ao Ensino Superior no presente, como também diminui a base demográfica para o futuro. Se os jovens saem para construir a sua vida noutro lugar, haverá menos nascimentos em Portugal, o que se traduzirá, inevitavelmente, numa menor população de futuros estudantes universitários daqui a 18 anos. Enquanto isso, o país vai se enchendo de imigrantes com baixa formação para manter o modelo económico. Tal como na Madeira, alguns empresários amarram o país. Acentuam a emigração e o futuro demográfico, a fuga de mentes e jovens em idade de procriar, acontece porque não existem governantes visionários.
As tendências que levam à queda do número de estudantes refletem, de facto, prioridades políticas que parecem favorecer certos setores em detrimento do bem-estar geral da população, são as prioridades políticas e as suas consequências. A Madeira é um exemplo "total". As políticas de incentivo ao turismo, como os vistos gold e os incentivos ao Alojamento Local, foram promovidas sem a devida ponderação das suas consequências no mercado de habitação e na qualidade de vida das populações locais. O crescimento descontrolado do turismo, embora traga receitas, também cria uma economia de serviços de baixo valor acrescentado e salários baixos para muitos, enquanto beneficia principalmente investidores e especuladores imobiliários. A habitação, um direito fundamental, é tratada como um produto de investimento, inacessível para a maioria. O foco no turismo e na especulação imobiliária, mas ainda a infraestruturação de áreas para o imobiliário (campo de golfe, por exemplo) é macabro.
Há uma perceção de que as políticas são moldadas para satisfazer interesses de grupos económicos específicos em vez de resolver os problemas estruturais do país. A falta de investimento no Ensino Superior, a ausência de um plano de habitação eficaz e a estagnação ou regressão económica na população portuguesa sugerem que o foco do poder político não tem sido em construir uma sociedade mais justa e equitativa, mas em manter as estruturas de poder existentes. O resultado é um país onde a educação, que deveria ser um motor de mobilidade social, se torna um privilégio, e onde os jovens se veem forçados a emigrar para prosperar. Estamos a matar o país sob vários prismas.
A queda do número de novos estudantes no Ensino Superior é um sintoma claro de uma nação que não está a investir no seu próprio futuro. É a consequência lógica de um modelo económico e social que prioriza a especulação e o turismo em detrimento das famílias, da educação e da fixação de jovens talentos. Mas falando da Madeira, com alojamento perto para os jovens madeirenses irem para a sua Universidade, se houver o curso que querem, indica que aquele estado de pobreza, demografia ou emigração está a apresentar sintomas severos.
Garanto-vos as vitórias em eleições, sem mudar o rumo, parece confortável para alguns, mas vai destruir a Madeira. Vamos voltar à Madeira Velha, onde aqueles que vociferavam contra ela se tornaram nos Novos da Madeira Velha. Só estudará a sua casta. Depois de oportunistas, açambarcadores das oportunidades, tornam-se egoístas e o "inimigo externo" cá dentro.
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