Rent-a-cars: o futuro é de carros órfãos.


Vendedores de carros, renta-a-car e dumping

A ntigamente,  a coisa funcionava assim, a rent-a-car comprava um carro, passado um tempo, dentro da garantia de fábrica, fazia a sua venda e comprava um novo. Assim, o carro rendia e depois com a venda abatia o investimento garantindo mais valias, lucro. Pergunto, com o atual depauperado poder de compra do madeirense que mercado vai absorver a quantidade de carros que estarão disponíveis para venda? Vão para trás ao preço dos fretes do Sousa?

Este é um ponto crucial sobre o ciclo de vida dos carros de aluguer, especialmente num contexto económico desafiante como o da Madeira. Portanto, continuamos a ver insustentabilidade, porque as rent-a-cars preferem a autonomia dos fósseis e o mercado vai prolongar os fósseis.

O modelo tradicional de rent-a-car baseia-se numa estratégia de rotação rápida de frota. Ao vender os carros enquanto ainda estão na garantia de fábrica, a empresa minimiza os custos com reparações e manutenção. Os carros, com poucos anos e quilómetros, mantêm um valor de mercado elevado, o que garante um bom retorno sobre o investimento inicial. Assim, a frota está sempre atualizada com os modelos mais recentes, um ponto forte para aliciar os clientes. Este ciclo permite às empresas de aluguer transformar a venda dos usados em capital para a aquisição de novos veículos, garantindo a rentabilidade e a modernização contínua do negócio.

Mas e depois? Vão encarar a realidade do madeirense ou acham que os estrangeiros residentes vão comprar de segunda mão? Com o poder de compra dos madeirenses em declínio, o mercado de usados regional enfrentará um desafio significativo. A quantidade de carros provenientes das frotas de aluguer, que tradicionalmente abastece este mercado vai exceder a procura.

Para escoar os veículos, as empresas vão ser forçadas a baixar os preços de venda, o que afeta diretamente a margem de lucro e a rentabilidade do modelo de negócio original. O madeirense estará "lixado" mas vai se rir de como a ganância vai se entalar. Sem compradores suficientes, os carros ficam parados por mais tempo, gerando custos de parqueamento, desvalorização e perda de capital que poderia ser reinvestido. Há tempo de vacas gordas, mas e depois... insustentabilidade. Não se importam com o madeirenses a vários níveis mas a realidade vai lhes bater à porta.

Perante a saturação do mercado local, as rent-a-car podem ter de procurar soluções fora da ilha. Exportar estes veículos para o continente ou para outros mercados pode ser uma alternativa, mas não é uma solução sem custos. Envolve despesas de transporte, logística e, potencialmente, a aceitação de um preço de venda ainda mais baixo. A questão é se os custos e a perda de valor compensam o escoamento rápido do stock. Se enveredarem por manter os carros mais tempo então extinguem o marketing de carro novo, a menos que omitam, tal como já não colocam autocolante perante o estigma do carro de aluguer com a clientela que traz. E os carros com tenda?

Não vejo solução. Atrasar a venda da frota? Manter os carros por mais tempo, mesmo que isso aumente os custos de manutenção e desvalorização. Redimensionar a frota? Adquirir menos veículos ou frota mais diversificada para evitar o excesso de oferta. Explorar novos canais de venda? A exportação?

A macroeconomia regional (neste caso, o poder de compra) pode ter um impacto direto e profundo nas empresas por não se preocuparem com o estado de pobreza da população em geral perante vencimentos que não crescem aos valores da carestia promovida por estrangeiros e turistas. Esta é uma forma de mostrar uma vez mais a insustentabilidade, os modelos de negócio que antes eram considerados infalíveis vão "pifar".

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