H oje tive que dar uma volta alargada pela ilha da Madeira em serviço, algo completamente fora da rotina, e pude constatar o que é isso do turismo de massas onde a Madeira se meteu e as consequências. Começo a achar que para ir ao "antigo Pico do Areeiro" vou ter que ir no dia de Natal com farnel. Ninguém pode tirar experiências positivas disto. Não foi o único lugar.
O Eduardo Jesus em vez de inventar estratégias para disfarçar, o que tem a fazer é diminuir a quantidade de turistas que entram. Toda a gente está a ficar farta deste ambiente tresloucado, roubaram-nos a ilha! Os ex-libris continuarão a ser visitados pelas massas. São esses os pontos fortes. Mas pelo caminho pus-me a pensar, existem exemplos no mundo de destinos que se aperceberam dos efeitos negativos do turismo de massa e implementaram medidas para se converterem num turismo mais sustentável e de qualidade? Alguém decidiu reduzir a pressão sobre a infraestrutura, o ambiente e a comunidade local, atraindo um visitante que valoriza mais a experiência do que a quantidade? Alguém fez frente à ganância e retrocedeu para menos turistas?
Fui pesquisar e houve surpresas, escolhi 4 porque depois o texto fica grande.
Essas conversões geralmente envolvem uma combinação de estratégias, o controlo de acesso, o limitar do número de visitantes diários ou semanais para evitar a sobrelotação. Cobrar uma taxa de entrada ou de turismo para ajudar a financiar a conservação e manutenção do local (isso vamos fazendo, mas parece que cobram e não investem - lembro do episódio do Cabo Girão). Promover outras áreas e atrações menos conhecidas para espalhar o fluxo de visitantes (Eduardo bem tenta mas isto é pequeno e largamente montanhoso). Estabelecer regras mais rigorosas para alojamento (como o aluguer de curta duração), transportes e comportamento dos turistas.
Escolhi 4 reconversões de turismo massivo para outro sustentável, numa mescla de destinos.
1. Machu Picchu, Peru. Este é um dos casos mais clássicos, o famoso sítio arqueológico Inca, Património Mundial da UNESCO, estava a ser ameaçado pelo excesso de turistas. O governo peruano agiu para proteger as ruínas e a experiência dos visitantes (ai o Fanal). O que fizeram? O número de visitantes diários foi limitado e os turistas são obrigados a comprar bilhetes para horários específicos. Foram criadas rotas designadas e a contratação de guias turísticos tornou-se obrigatória para garantir que os visitantes seguem os caminhos e não causam danos.
2. Veneza, Itália. Veneza tem sido um símbolo do turismo de massas, com protestos e críticas crescentes por parte dos moradores (as inscrições nas paredes tinham frases "mortais"). Veneza enfrenta problemas graves como a erosão dos edifícios e a deslocação da população local devido ao aumento dos alugueres de curta duração... os "benditos" AL's. Veneza implementou um sistema de taxa de entrada para visitantes diários e proibiu a circulação de grandes navios de cruzeiro no centro histórico, desviando-os para portos mais distantes, Trieste, por exemplo. O objetivo é desincentivar as "visitas de um dia", que contribuem para a sobrelotação sem um impacto económico significativo. Não temos turismo de um dia (a não ser P. Santo) mas temos de carro-tenda...
3. Amesterdão, Países Baixos. A capital é conhecida por uma vibrante vida noturna e atitudes liberais, mas decidiu lutar contra o turismo de "festas" porque perturbava a vida dos residentes. Proibiram a chegada de grandes cruzeiros no centro da cidade, restringiram a venda de álcool em certas áreas, e limitaram também o aluguer de alojamento de curta duração. Também lançou campanhas para desencorajar o turismo de massas, focando-se em visitantes que procuram experiências culturais e de qualidade. A cidade é um museu com museus.
4. Ilhas Phi Phi, na Tailândia. A famosa Maya Bay, nas Ilhas Phi Phi, ficou mundialmente conhecida depois do filme "A Praia". O turismo intensivo levou à degradação ambiental, com a destruição de recifes de coral. Por esta razão, a baía foi completamente fechada ao turismo durante quase quatro anos para permitir a sua regeneração. Depois da reabertura, foi imposto um limite estrito ao número de barcos e visitantes diários, e as embarcações de turistas não podem mais atracar diretamente na praia.
Finalizo com uma pergunta, o Fanal vai regenerar com quantos séculos?
1 Comentários
Gostei da coragem que este artigo contém. Bem haja. Pena essa gente eleita pelo povo esquecerem que o lindo jardim da Madeira em pleno Atlântico é nosso... mas poderia muito bem pertencer ao mundo se forem criadas formas de impedir o turismo miserávelque diariamente nos inunda e incomoda a natureza.
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