A bússola de Albuquerque

P arece que Miguel Albuquerque anda às voltas com a sua própria bússola política, incapaz de decidir se avança ou não com Elsa Fernandes. Ora, Miguel, não se apoquente tanto: estamos a falar de alguém que não lhe dará dores de cabeça. Elsa é daquelas presenças que seguem a corrente sem nunca questionar a maré. Se lhe disser para virar à direita, ela marcha; se lhe ordenar para virar à esquerda, ela sorri e obedece.

A grande indecisão não está, portanto, em saber se Elsa será capaz de o contrariar — não será. A questão é apenas se Miguel Albuquerque prefere ter ao lado mais uma voz própria ou, pelo contrário, um eco suave, sempre pronto a repetir as suas ideias como se fossem revelações fresquinhas.

No fundo, a escolha é simples: Elsa não pensa por conta própria, e é precisamente essa “virtude” que pode transformar a sua hesitação em perda de tempo. A ironia maior? Miguel debate-se como se estivesse a ponderar entre um espírito livre e uma discípula crítica. Quando, na realidade, a decisão resume-se a escolher entre ter mais um aliado fiel ou... mais um aliado fiel.

Parece que tem diante de si uma escolha difícil. Difícil, Miguel? Não brinque. Estamos a falar de alguém que não arrisca um pensamento autónomo, que segue o guião sem sequer se dar ao trabalho de ler as entrelinhas.

Elsa é aquela figura confortável para qualquer líder: não questiona, não discute, não propõe. Apenas acata. Um luxo, se o objetivo for rodear-se de ecos em vez de vozes. A ironia está em vê-lo hesitar como se estivesse perante uma personalidade independente, quando na verdade tem ali uma seguidora pronta a executar o que lhe mandar, sem pestanejar.

Portanto, Miguel, poupe-se às dúvidas. A escolha não é entre força e fraqueza, mas entre ter ao lado mais uma marioneta dócil ou… exatamente a mesma marioneta dócil.