C om a aproximação das eleições autárquicas de 12 de outubro de 2025 em São Vicente, a Coligação PPD/CDS, liderada por António Manuel Gonçalves, apresenta-se ao eleitorado com um perfil que, sob escrutínio, revela uma preocupante debilidade estrutural. A equipa, tal como se tem manifestado, corre o risco de ser avaliada não pela sua visão, mas pela sua escassez de substância. Não se trata de um ataque ad hominem, mas de uma avaliação honesta e perspicaz da arquitetura do seu discurso de campanha. O que se observa é um padrão retórico que privilegia a intenção sobre o impacto, a idealização sobre a mensuração.
A retórica do vazio: ausência de compromisso concreto
A principal crítica a esta candidatura reside na falta sistémica de resultados concretos, métricas de sucesso e propostas tangíveis. O discurso é amiúde excessivamente elogioso, deslizando facilmente para o domínio da propaganda desprovida de lastro factual.
Os eleitores mais críticos notarão a ausência total de discussão sobre problemas ou desafios reais que fustigam São Vicente. A negação implícita dos obstáculos gera desconfiança, tornando a mensagem vulnerável a ser percebida como elitista ou excessivamente conservadora, descolada das dificuldades quotidianas da população.
A campanha centra-se indevidamente na linguagem idealizada e na retórica do cuidado, mas falha miseravelmente em articular prioridades cruciais como a economia, a infraestrutura e a gestão orçamental. Onde estão os detalhes sobre habitação acessível? Qual o tipo de construção? Que custos? Que terrenos serão afetados? Quais os prazos de entrega? Estas lacunas transformam intenções nobres em meras declarações vazias.
O risco da dependência e a falta de autonomia técnica
A dependência da liderança de terceiros – e a ênfase na imagem e amizade com o líder – sugere uma notória falta de autonomia de pensamento e de capacidade de decisão independente. Esta postura pode ser lida como um indicativo de que a equipa poderá ter um perfil gestor/administrativo forte a nível local, mas fraco em governação técnica e tomada de decisões públicas complexas.
O tom muito pessoal do discurso não só não convida explicitamente ao debate público, sendo sobretudo performativo e declaratório, como também abre a porta a interpretações de falta de experiência em gestão pública com a necessária impessoalidade técnica.
«É difícil avaliar o impacto real» de qualquer proposta quando não são indicados compromissos, indicadores ou calendários. Não há metas, calendarização ou métricas mensuráveis (KPI - Key Performance Indicators) que permitam ao cidadão fazer um acompanhamento rigoroso. Por exemplo, a requalificação de trilhos — uma proposta comum — não vem acompanhada por quantos serão requalificados, quando, nem a que custo.
A fragilidade da accountability
A ausência de menção a gestão orçamental, a prioridades concorrentes e a formas de participação desvaloriza a candidatura. Proteger o território, por exemplo, implica sempre trade-offs sobre turismo, acessibilidade e financiamento. O facto de o texto não discutir estes conflitos demonstra uma falta de maturidade política e técnica na abordagem dos desafios complexos.
Em última análise, a mensagem da Coligação PPD/CDS, tal como se apresenta, é vulnerável a pedidos de transparência. A ausência de mecanismos de accountability e de concretização orçamental e cronológica faz com que a candidatura corra um sério risco de ser percebida como uma mera retórica de campanha, destinada a cativar emoções mas não a gerir a polis com a inteligência e o rigor que São Vicente merece.
A política, sobretudo a autárquica, exige mais do que boas intenções: requer método, transparência e um plano de execução detalhado e mensurável. Até que estes elementos sejam apresentados, a avaliação de que esta equipa é «fraca» subsiste, ancorada na análise honesta do que falta no seu discurso.