Esgoto digital a céu aberto.
E m São Vicente, Madeira, existe no Facebook uma página que se autointitula “Jornal de São Vicente”. Chamar-lhe jornal é insulto ao jornalismo. É mais correto chamar-lhe o que realmente é: um esgoto digital. Ali não há informação, há ódio. Não há notícia, há raiva disfarçada. Não há verdade, há manipulação.
A verdadeira ignorância não é falta de conhecimento, é recusar aprender. E o que esta página pratica não é liberdade de expressão, mas sim abuso do termo. Porque liberdade de expressão não significa licença para mentir. Significa poder falar e criticar, mas com responsabilidade e respeito. Uma comunidade democrática vive de debate livre, não de lixo tóxico embrulhado em publicações.
O Código Penal português é claro: levantar calúnias, inventar crimes ou espalhar boatos sem provas pode constituir crime de calúnia ou difamação. Mais grave ainda, o artigo 339 tipifica a denunciação caluniosa como crime punível com prisão até 8 anos. Mas para esta página, insultar virou hobby, e a mentira, rotina.
Um jornal local existe para aproximar vizinhos, informar sobre o que acontece no concelho: escolas, cultura, obras, problemas da rua, resultados desportivos. O “Jornal de São Vicente” não faz nada disso. É apenas uma caixa de ressonância para raivosos anónimos, que vomitam inveja, raiva e ressentimento, como se o concelho fosse palco de uma guerra inventada.
O mais revelador é a ligação política. Basta olhar: os “gostos”, os comentários, os alinhamentos. É porta-voz disfarçado de partido. Um pseudojornal que funciona como megafone de propaganda, confundindo imprensa com campanha. Essa promiscuidade é perigosa. Quando um jornal serve partidos e não cidadãos, deixa de informar e passa a manipular.
A retórica é sempre a mesma: gritar conspiração, inventar inimigos, criar fantasmas. Mas muitas vezes, a explicação não é conspiração — é estupidez. E é mais fácil enganar o povo do que convencê-lo de que foi enganado.
Este falso jornal não é voz de oprimidos, é eco de cobardes. Não defende liberdade, defende insulto. Não combate injustiça, espalha ódio. Não é trincheira de democracia, é palco de vaidades mesquinhas.
Pior ainda: confunde seguidores com credibilidade. Mas muitos seguem apenas por curiosidade ou para rir da palhaçada. Não é admiração, é apenas barulho. Barulho de tasca, de faroeste, de feira de insultos.
São Vicente merece melhor. Os vicentinos são pessoas trabalhadoras, bem-humoradas, hospitaleiras. Não merecem que a imagem da terra seja arrastada para a lama por um jornalixo fictício que mais parece novela barata.
Um jornal sério vive de factos. Este vive de ressentimento. E como todo ressentido, veste inveja com palavras bonitas, mas por dentro é vazio. São pessoas com complexo de inferioridade, incapazes de ver o sucesso dos outros sem desejar a sua queda. São “merdavilhosos”: por fora simpáticos, por dentro podres.
A língua, quando usada sem ética, destrói mais do que qualquer arma. Arruína reputações, famílias e comunidades. E este jornal usou-a para criar divisão e medo. A maior arma deles não é a verdade, é a mentira repetida até parecer real.
Mas há uma regra da vida: fruta podre cai sozinha. Quem se alimenta de ódio acaba sufocado pelo mesmo veneno.
São Vicente não precisa de um “jornal” de fantasmas digitais. Precisa de informação séria, clara, verdadeira. Precisa de debate limpo, com ideias e argumentos, não insultos e calúnias.
O que vemos hoje é apenas uma máscara mal feita. Um monstrinho digital, disfarçado de jornal, que representa o pior do sistema: ignorância transformada em arma, frustração transformada em texto, inveja transformada em “notícia”.
Quem não aceita críticas não devia criticar. Quem pede respeito devia começar por respeitar. Quem mente para manipular acaba exposto. E quem acredita cegamente sem questionar já perdeu metade da liberdade que diz defender.
É como já se disse: até o sal pode parecer açúcar. E nada é mais perigoso do que confundir mentira com verdade.
São Vicente não se revê neste jornal. Os vicentinos são mais inteligentes do que este lixo digital supõe. E quando os forasteiros visitam a vila, que não confundam a nossa comunidade com esta farsa. Aqui, as pessoas são hospitaleiras, bem-educadas e sabem viver com pouco, mas com dignidade.
O “Jornal de São Vicente” pode gritar mais alto. Mas no fim, não passa disso: um eco de ódio que morre no próprio vazio.