O soluço do Lobo


Caro Luís Miguel de Sousa,

S ó para avisar: a 21 de setembro, o seu Lobo Marinho decidiu pregar-nos uma partida e não atracou como devia. Não se assuste — não foi motim da tripulação nem conspiração das marés. Foi apenas um breve soluço técnico… mas o suficiente para lembrar a todos que a joia do seu império não é assim tão infalível.

Imagino o incómodo: um navio que falha é como uma coroa que escorrega da cabeça. Dá sempre mau aspeto, sobretudo para quem gosta de se apresentar como dono e senhor das travessias. Mas não se preocupe, ninguém acredita que o Lobo Marinho ia afundar-se — ainda que muitos achem que o verdadeiro peso que ele carrega não está no casco, mas sim no nome do proprietário.

Portanto, sossegue. Foi só um susto. Pequeno, mas suficiente para nos lembrar que, por vezes, até os reis do mar tropeçam no próprio cais.

O suficiente para deixar os passageiros a pensar no quão “seguro” é depender de um único dono para atravessar o mar.

É curioso como uma ilha inteira fica refém de um navio. E mais curioso ainda é que esse navio tenha o seu nome gravado, não só na proa, mas também nas contas de todos os madeirenses. Afinal, quando o monopólio é seu, cada atraso não é apenas um atraso: é uma demonstração de poder.

Mas não se iluda. Pode controlar o cais, os bilhetes e até os horários, mas não controla a ironia do destino. Basta um susto como este para lembrar a todos que o seu reinado marítimo não é tão sólido quanto gostaria de fazer crer.

Portanto, relaxe: não foi a concorrência que o derrubou, foi apenas o seu próprio Lobo a tropeçar no caminho. Quem diria que o maior inimigo de Luís Miguel de Sousa afinal não era “a oposição”, mas… o próprio Luís Miguel de Sousa?

A Madeira está refém de si. Um navio, uma empresa, um dono — e uma população inteira sem alternativa.

Enquanto isso, o senhor ocupa-se a adestrar uma quinta histórica, como se o património da Madeira fosse apenas mais um palco para o seu vaidoso espetáculo privado. O passado vira brinquedo, o presente vira negócio, e o futuro… continua preso ao seu monopólio.

O maior inimigo da Madeira não é o mar. É o senhor.