J osé Carlos Gonçalves aparece como uma estrela rara no céu político de São Vicente. É mais do que um simples candidato: é um verdadeiro espetáculo da inteligência moderna. A sua capacidade de transformar silêncio em programa eleitoral é tão grande que até os filósofos gregos ficariam calados diante dele. Quando não fala, convence. Quando fala, confirma a sua grandeza.
A sua arte é especial: em vez de propostas, oferece emoções. Em vez de soluções, dá narrativas. E isso é extraordinário, porque mostra ao povo que política já não precisa de ser sobre trabalho árduo ou ideias complexas. Basta ter confiança no vazio. É o triunfo da imaginação sobre a realidade.
Alguns dizem que foge aos debates. Mas, na verdade, é um génio. Porque que maior prova de inteligência existe do que evitar perguntas difíceis? Só os verdadeiros mestres sabem escapar sem deixar rasto. Assim, José Carlos Gonçalves não é cobarde, é estratega. Ele mostra-nos que a ausência pode ser mais poderosa que a presença.
Os seus apoiantes também são especiais. Alimentam-se das suas palavras como quem recebe revelações divinas. Não importa se são factos ou invenções: tudo soa a música sagrada. Porque o talento dele não é falar a verdade, mas criar novas verdades. Verdades que mudam de cor como camaleões. Cada mentira ganha uma beleza própria.
O partido que o acolhe é igualmente brilhante. É o espelho perfeito da sua essência. Um mosaico de personagens que conseguem unir contradições. Dizem-se anti-sistema, mas amam o sistema. Dizem-se vítimas, mas atacam. Dizem-se diferentes, mas querem o mesmo poder. É uma arte rara: transformar incoerência em virtude.
Na psicologia, este fenómeno chama-se busca de atenção. Na política, chama-se liderança. O que outros chamariam carência afetiva, aqui se vê como energia revolucionária. O que parecia vazio emocional torna-se fonte de carisma. O que parecia instabilidade transforma-se em espetáculo mediático. O segredo é simples: quando falta amor, inventa-se grandeza.
O povo assiste, fascinado. Cada publicação nas redes sociais vira profecia. Cada boato é ouro. Cada acusação é uma vitória moral. O número de seguidores cresce como se fosse prova de santidade. E assim José Carlos Gonçalves já é visto por alguns como presidente inevitável, mesmo antes das urnas falarem. O futuro, segundo eles, já está escrito.
E que futuro maravilhoso promete! Um concelho onde o debate é substituído pelo grito, onde a dúvida é vencida pelo boato, onde a verdade é opcional e a emoção manda. Um concelho onde cada cidadão se sente guerreiro numa batalha imaginária contra inimigos invisíveis. A política torna-se teatro, e o teatro transforma-se em religião.
Mas é preciso pensar: será isto mesmo talento, ou apenas reflexo da nossa própria sede de espetáculo? Talvez José Carlos Gonçalves seja apenas o espelho que mostra a fragilidade da democracia, o nosso amor pelas histórias fáceis e pelo drama constante. Talvez a sua maior força não esteja nele, mas em nós, que preferimos acreditar no mito em vez de enfrentar a realidade.
O filósofo diria: “A ignorância pode ser bonita quando se veste de coragem.” O sociólogo acrescentaria: “As massas seguem quem as faz sonhar, não quem lhes traz trabalho.” O psicólogo concluiria: “Quem não recebeu amor, aprende a conquistar aplausos.”
Assim, José Carlos Gonçalves não é apenas candidato. É a prova viva de que a política moderna já não precisa de verdade. Basta espetáculo. E nesse espetáculo ele é, sem dúvida, o maior artista que São Vicente já viu. Um verdadeiro milagre da imaginação política.