O turismo até rebentar pelas costuras


H á muito que se repete o mantra de que "o turismo é o motor da nossa economia". É verdade, ninguém nega o seu peso. Mas quando um motor é puxado ao limite sem manutenção, sem equilíbrio e sem planeamento, o resultado é sempre o mesmo: quebra.

Na nossa pequena ilha, já todos sentimos isso na pele. Estradas congestionadas, trilhos transformados em filas, centros históricos onde já não se ouve o falar da terra mas sim o inglês, o alemão e o francês — todos em coro, enquanto os residentes se escondem ou simplesmente desistem de frequentar os mesmos espaços.

Apesar deste cenário, há quem insista em trazer cada vez mais, como se a ilha tivesse uma capacidade infinita. A política do "mais turismo" parece ser a única visão possível para quem toma decisões. E aqui surge a inevitável pergunta: porquê essa insistência?

É impossível não notar como, nos últimos anos, o alojamento local floresceu como nunca. Talvez seja apenas coincidência, mas não deixa de ser curioso como alguns dos mais fervorosos defensores do crescimento turístico também parecem ter ligações — diretas ou indiretas — a este setor. Não se aponta o dedo, apenas se observa a sincronia quase perfeita entre discurso e interesse.

E se olharmos ainda mais atrás, não podemos esquecer o momento em que o turismo começou verdadeiramente a transbordar: quando o maior grupo de construção civil da Madeira, até então conhecido por dominar as obras públicas, decidiu mudar de aposta e investir pesado em hotéis. Desde então, ergueu-se no Funchal um hotel de dimensões tão desproporcionais que parece feito não para acolher turistas, mas para engolir a cidade inteira.

A partir daí, o rumo ficou traçado. Mais hotéis, mais turistas, mais pressão. Sempre mais.

Mas até quando? Até que ponto se pode esticar a corda sem que rebente? A qualidade de vida dos residentes, a preservação do território e até a experiência do próprio visitante estão em risco.

Talvez esteja na hora de se perguntar se esta visão de turismo sem travões serve realmente a Madeira… ou apenas alguns madeirenses muito específicos.