Os estranho mundo dos jornalistas da Madeira

O s jornalistas e jornalismo na Madeira estão a perder importância porque fizeram uma opção e acabarão ultrapassados pela quantidade das redes sociais porque não fazem o seu trabalho. Para se acusar é preciso idoneidade e não prosápia feita num todo ao qual parcelarmente não pertencem. Em vez de arranjarem desculpas, ponham os Conselhos de Redação a funcionar, assumam a independência zelada por lei e assumam um editorial fidedigno, honrem a profissão em vez de arranjarem justificações e acusações sobre um comboio que passa por si. Os jornalistas são pedras no ribeiro e a água passa...

Na Madeira, o jornalismo atravessa uma crise de credibilidade que não se explica apenas pela fragilidade económica do setor, mas sobretudo pela sua captura por interesses políticos e empresariais. O problema é simples de enunciar, grande parte dos órgãos de comunicação social pertence a empresários ligados ao regime, e os jornalistas que neles trabalham optaram por servir esse lado em vez do público, na única profissão em que por lei o patrão não manda... nas notícias.

Os principais grupos de comunicação social madeirenses estão nas mãos de figuras como Avelino Farinha, Luís Miguel Sousa e Jaime Ramos. Nenhum destes nomes é alheio ao poder político. Um construiu um império empresarial com base em concessões públicas, outro domina setores estratégicos como os transportes, e o terceiro nasceu da política e transformou-a em alavanca para negócios. Quando o dono de um jornal depende do governo, é ilusório esperar independência editorial.

Nesta realidade, os jornalistas são menos profissionais livres e mais empregados que executam a linha de quem paga o salário. Em vez de questionar o poder, acomodam-se a ele. Em vez de investigar, reproduzem narrativas oficiais. Com isso, perdem a confiança dos leitores, mas persistem em reagir com indignação sempre que alguém lhes aponta a parcialidade.

A dependência é reforçada pelo MediaRAM, o sistema de subsídios à comunicação social pago pelo Governo Regional. Oficialmente, trata-se de um apoio para garantir a sobrevivência dos media numa região ultraperiférica. Na prática, é um cordão umbilical que mantém jornais e rádios alinhados com o poder. Quem ousa morder a mão que alimenta arrisca-se a perder financiamento.

Não surpreende, por isso, que muitos jornalistas repliquem os tiques do PSD, indignam-se como vítimas, atacam críticos com a mesma agressividade do partido, e evitam qualquer autocrítica. Armam-se em honrados, mas esquecem que a honra no jornalismo não se mede pela lealdade ao patrão, e sim pela lealdade ao público e à verdade.

As consequências são graves, o dilema não resolvido dos jornalistas é pago por aqueles que o apontam, ficam nervosos, é inconveniente, podem perder o essencial para valores a pena pagar, a influência nos eleitores. Sem um jornalismo independente, não existe verdadeiro escrutínio do poder. A oposição e a sociedade civil veem-se silenciadas ou relegadas para notas marginais. A democracia enfraquece porque um eleitorado mal informado é um eleitorado manipulado.

Quando os jornalistas escolhem o lado do poder, político e económico, e atiram-se à sociedade nas redes sociais, deixam de cumprir a sua função essencial, ser vigilantes da democracia. Na Madeira, escolheram esse lado, e agora estranham que os cidadãos constatem a evidência. Mas a constatação é justa: não são independentes, e enquanto não romperem com essa teia de interesses, nunca o serão.

Acredito que assim que sejam "jornalistas" e não propagandistas ou "narrativistas" a população nas redes sociais mostraram outra cara e serão defendido. Resolvam o dilema porque têm armas, o que lhes falta é coragem, é mais fácil acusar as redes sociais de tudo. "Inveja" é as redes sociais serem livres e sem proprietário ativo, apesar de até nelas moverem perseguições.