São Vicente em guerra política: entre tribos, vaidades e a Voz do Povo


São Vicente, Madeira. Eleições Autárquicas 2025. Sexta-feira, 26 de setembro de 2025.

S ou vicentino de alma e gema. Não faço parte, nem represento qualquer partido político ou força organizada. Sou apenas um cidadão normal, como tantos outros. Nunca quis fazer parte da engrenagem, mas também não me ponham por ignorante. Não sou mais inteligente do que ninguém, nem rico — pelo contrário, enfrento as mesmas dificuldades diárias que todos os outros. A diferença é que a idade me ensinou a observar, a analisar e a distinguir o que me rodeia.

Tenho lido as acusações mútuas, os egos inflados, o jogo sujo que anda a incendiar esta campanha entre o CHEGA e a coligação PPD/CDS. Digo-vos sem rodeios: estou chocado. E, pior do que isso, estou envergonhado — envergonhado pela vergonha alheia, por ver o meu concelho reduzido a um pantanal político.

Caríssimos políticos: não havia necessidade de tanto circo.

De um lado temos uns que se dizem contra tudo e todos, mas que no fundo querem exatamente o mesmo: sentar-se na cadeira do poder e impor a sua própria tribo. Do outro lado, os mesmos de sempre, inchados de vaidade, agarrados ao cartão laranja como se fosse uma licença divina para governar ad eternum.

Os do CHEGA julgam quem querem enganar com as suas táticas de adolescentes rebeldes? No fim do dia, o que querem é controlar tudo. Isso não é democrático, nem humano. Já os da coligação PPD/CDS continuam com as suas manias de superioridade — mas superiores em quê, se são tão falíveis e humanos como qualquer outro?

De um lado, selvagens a querer governar como porcos de monte e palhaços de circo. Do outro, aristocratas de pacotilha, incapazes de largar o osso porque acreditam que o poder tem dono e que o concelho lhes pertence por herança.

E o povo vicentino? Onde fica no meio desta guerra tribal?

Digam-me, senhores candidatos: onde estão os benefícios, a segurança, as mudanças reais, a paz que tanto prometem? Qual de vocês me garante salário, estabilidade, harmonia, descanso? Quem de vós se interessa, genuinamente, por saber se eu hoje comi ou não; se dormi bem; se tenho dinheiro no bolso; se a minha casa precisa de reparações; se os nossos filhos têm transporte escolar digno e escolas equipadas; se os meus familiares são tratados com respeito nas urgências médicas; se as estradas do concelho estão em condições?

Alguém sabe responder? Ou estão apenas preocupados com o vosso futuro lugar à mesa do orçamento camarário, com a próxima viagem de férias, ou com o próximo “golpe ao baú” para sacar mais uns euros para os amigos e compadres?

Até hoje, nenhum de vocês me veio perguntar o que realmente quero, ou demonstrou interesse pelas minhas dificuldades. Por isso, digo-vos eu:

Quero paz, harmonia, saúde, educação, estradas limpas e seguras, estabilidade, acessibilidade, salário digno, garantias, segurança, respeito, mobilidade, bons serviços públicos, comida na mesa, roupa lavada, uma casa arranjada, férias sem dívidas, e, sobretudo, dignidade. Não quero luxos, quero direitos. Não peço milagres, peço decência.

Agora pergunto: qual de vocês me pode dar garantias reais disto? Qual de vocês se interessa verdadeiramente pelos vicentinos que não pertencem ao vosso círculo de amigos?

Afinal, de quem é o concelho de São Vicente? Tem dono? Ou será que o povo — nós, vicentinos — somos apenas figurantes num teatro onde uns se vestem de salvadores e outros de senhores feudais?

Senhores políticos, respondam-me:

Quem são vocês? O que querem de nós? E até quando pensam que o povo vai ficar calado?