Falar de cór

 

Querida Neuza,

A verdadeira calamidade não está no trânsito do Ribeiro Frio — está em passar os dias atrás de um teclado a mandar notas de imprensa em vez de ir ver o que se passa no terreno. Experimente um dia falar com os locais, os comerciantes e os visitantes… pode ser que descubra que o mundo não se resume a comunicados do partido.

E já agora, caso não tenha reparado (ou não lhe tenham contado), a polícia está lá todos os dias entre as 9h e as 12h — serviço pago, dizem as más línguas, pelo Instituto das Florestas. Mas claro, é sempre mais fácil culpar “a Câmara” do que perceber como as coisas realmente funcionam.

Se fosse ao local, veria que criar estacionamento ali é mais complicado do que fazer uma selfie de campanha. Estamos numa reserva natural, onde nem uma pedra se pode mexer sem autorização do Governo Regional. A Câmara pode querer muito, mas não tem poder para abrir túneis na Laurissilva — embora pelo discurso, até parece que essa seria a sua solução milagrosa.

Diga-nos lá, Neuza: qual seria o seu plano? Uma ponte aérea? Um parque de estacionamento subterrâneo no meio do mato? Rebentar com meia serra em nome da mobilidade?

Não sou da cor do atual executivo, nem vivo no concelho, mas há limites para a demagogia. Antes de falar em “falta de autoridade”, talvez fosse bom aprender o bê-á-bá da gestão autárquica.

Mas pronto, boa sorte na campanha. E se passar pelo Ribeiro Frio, aproveite para respirar o ar puro — faz bem à cabeça e ajuda a ver as coisas com mais clareza.