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| Era bom olharem para o que se passa no sonho americano neste momento, no país das oportunidades. |
É incontestável: porque é que um pobre vota contra os seus próprios interesses? Num país onde o acesso aos cuidados de saúde, à educação, à habitação e aos serviços sociais é vital para muitos, como pode alguém que depende do Estado apoiar partidos que visam enfraquecer ou eliminar estes direitos? Não seria mais lógico apoiar aqueles que garantem a sobrevivência das camadas mais vulneráveis?
Tomemos o exemplo do Chega, um partido de direita radical, abertamente contra o Estado Social. Os seus eleitores dizem-se “injustiçados”, mas na verdade estão apenas a perpetuar o que lhes faz mal. Eles, que vivem das benesses públicas, escolhem votar para cortar essas mesmas benesses, favorecendo sempre quem já tem o suficiente. É uma traição disfarçada de opção política.
Estes eleitores, que deveriam lutar pelos seus próprios direitos, acabam por se aliar a um sistema que só fortalece os ricos e poderosos. O que os move não é um sentido de justiça ou de liberdade, mas a inveja de quem está melhor. Não procuram um futuro mais justo, mas sim a destruição do que já foi conquistado, desejando que os outros também caiam, em vez de ascenderem.
Esta mentalidade é alimentada por uma narrativa simplista: a culpa é dos outros, a culpa é do sistema, a culpa é dos imigrantes, dos ciganos, das mulheres, de todos os que, segundo esta visão, ocupam um lugar que poderia ser de quem está “no fundo da pirâmide”. E como o fazem? Apontando o dedo a quem já sofre as consequências de políticas públicas que, pelo menos, garantem a sua sobrevivência.
Mas o grande erro destes pobres que votam contra si próprios é não perceberem que, ao apoiarem a direita radical, não estão a defender uma liberdade de escolha. Estão, na verdade, a defender a liberdade dos ricos e poderosos de continuarem a ser ainda mais ricos, sem qualquer consideração pelas dificuldades do povo. A liberdade que a direita oferece não é para todos. É para quem já está em cima, e que, por sua vez, deseja que os outros continuem em baixo.
O que se observa é um triste paradoxo: os mais vulneráveis, que necessitam do sistema, acabam por ser os maiores defensores de quem deseja destruir esse sistema. Tornam-se peões num jogo de poder onde nunca terão hipótese de ganhar. A ilusão de que a direita pode beneficiar os pobres é uma falácia, uma mentira que enfraquece a própria base da sociedade.
A política da vingança e da inveja não oferece um futuro melhor a quem mais precisa. O que ela oferece é a perpetuação da desigualdade e a exclusão daqueles que mais necessitam de proteção.
Assim, é tempo de refletir: não se deixe enganar. A verdadeira política é aquela que procura a igualdade, a justiça social e o bem-estar de todos, não apenas a destruição das conquistas de quem mais precisa.

