D izem que as universidades são templos do pensamento livre. Mas na Madeira, parece que a fé tem mais força que a razão, e até o ateísmo se tornou uma forma de devoção institucional. Entre discursos sobre laicidade e decisões dignas de um sínodo, a Universidade da Madeira vive um curioso milagre académico, ser guiada por um ateu que acredita em tudo, menos nos profissionais mais competentes da própria universidade. Ele escolhe a dedo os mais incompetentes. São esses os que sobem na carreira e depois esses mais incompetentes continuam a selecionar outros igualmente incompetentes, através de presidências de juris nomeadas pelo ateu regente mas orientado pela fé católica.
Diz-se que o reitor da Universidade da Madeira é ateu, um homem da razão, da ciência, do pensamento livre. Tão livre, aliás, que anda de mãos dadas com a Igreja Católica, a mesma instituição que, durante séculos, excomungou qualquer tentativa de pensamento livre. Ironias do destino académico, o reitor que não acredita em Deus parece acreditar piamente no poder das batinas.
Entre uma missa e uma reunião do conselho, a universidade vai-se ajoelhando, lentamente, perante os altares da conveniência e da incompetência. E lá está ele, o ateu de toga, a acender velas metafóricas para garantir que a instituição não desagrada aos santos e santas da política eclesiástica. O que é a fé senão a esperança de que alguém, lá em cima (ou em algum gabinete episcopal), resolva os problemas que a gestão não consegue?
A UMa, essa pequena catedral do conhecimento, definha lentamente entre promessas divinas e decisões milagrosamente erradas. E o reitor, o ateu mais piedoso da região, segue firme no seu credo: “Não acredito em Deus, mas acredito em quem fala por Ele… sobretudo se tiver influência.”
No fim, talvez não seja mesmo uma questão de fé. Talvez seja apenas a velha religião da sobrevivência, com dogmas de poder, santos de conveniência e indulgências políticas à venda. E se a Universidade perecer, que seja em nome do Pai, do Filho e da cunha Institucional. Ámen.
