Imagem: entrada do cais do Porto Santo, ladeada por palmeiras saudáveis e os troncos das palmeiras abatidas depois do ataque de Rhynchophorus ferrugineus.
P recipitação média anual baixa, muitas horas de insolação, verões muito secos e linhas de água com regime torrencial após chuvas intensas no inverno, mas secas o resto do ano, conferem à paisagem da ilha do Porto Santo características das regiões semiáridas, daí que a gestão, conservação e ampliação das zonas florestadas seja de extrema importância, bem como a preservação dos espaços verdes existentes na cidade.
Numa ilha com estas características e tendo em conta as indesmentíveis alterações climáticas que se aproximam a passos largos, seria de esperar que a autarquia do Porto Santo tivesse mais cuidado na preservação das áreas verdes da cidade. Isso para não falar da necessidade de criação de novos espaços verdes sobre o que nada ou muito pouco foi feito, como forma de reduzir o calor da cidade, melhorar a qualidade do ar (o que tem impacto direto na qualidade da saúde e bem-estar), fixar o solo e aumentar a biodiversidade.
Na paisagem da Vila Baleira sobressaem as casas, o alcatrão, o betão, as calçadas e, nos últimos tempos, a brita espalhada sobre a terra nos espaços ajardinados (o que seca ainda mais o solo, intensifica o calor e mata toda a biodiversidade associada). Nos dias de sol descoberto, andar nas ruas desta cidade é uma tortura, pois não há uma sombra nos passeios, nem em espaços, como por exemplo praças com árvores que arrefeçam o ar.
Mas vamos analisar um exemplo prático de como a Câmara do Porto Santo gere os espaços verdes:
O caso mais recente e gritante, é o abate de quase todas as palmeiras da espécie Phoenix canariensis, infestadas pelo escaravelho da palmeira (Rhynchophorus ferrugineus), durante o corrente ano. O primeiro caso surgiu em 2015: link da notícia e a partir daqui o número de palmeiras infetadas aumentou.
Como forma de controlar os ataques do escaravelho, a autarquia optou pelo abate, por vezes, tardio, das palmeiras doentes, sem, contudo, iniciar o tratamento fitossanitário e a utilização de armadilhas (com feromonas) nas zonas infestadas de modo a capturar os insetos, impedindo a sua propagação a novas áreas. Face às medidas tardias e inadequadas, a dispersão do escaravelho continuou acabando por instalar-se em quase todas as palmeiras da cidade.
O Porto Santo chegou a esta situação por incúria e desleixo da Câmara Municipal do Porto Santo e pela ação tardia do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza (IFCN) da Madeira, quando já existiam diretivas da União Europeia, como a Decisão da Comissão nº. 2007/365/CE de 25 de Maio, link, que considera esta praga de luta obrigatória e estabelecia medidas de emergência em caso de introdução e propagação do escaravelho da palmeira na comunidade, posteriormente atualizada pela Decisão Comunitária nº 2010/467/UE de 17 de Agosto, link, que revê os vegetais suscetíveis e propõe as medidas a adotar em caso de deteção da presença deste inseto.
Na luta contra o escaravelho poderiam ainda ter recorrido ao plano de ação da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), no qual esteve, diretamente, envolvida a Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural – RA Madeira, link. Neste plano são abordados temas como os hospedeiros, a morfologia, a bioecologia, a identificação de sinais e/ou sintomas e os tratamentos fitossanitários autorizados para o controlo da praga, as épocas de aplicação, nas palmeiras sem sintomas ou com sintomas leves ou pouco infestadas. Portanto, não foi por não estar disponível informação fidedigna que não foram executados atempadamente os procedimentos adequados com vista à eliminação do escaravelho.
Por toda ilha do Porto Santo podem observar-se palmeiras atacadas pelo escaravelho, muitas delas já mortas, mas sem que tenham sido removidas e destruídas, perpetuando-se assim o ciclo do escaravelho e a sua dispersão entre as plantas saudáveis.
A presença de R. ferrugineus no Porto Santo foi detetada pela primeira vez em 2015 e, logo, nessa altura, segundo a Decisão da Comissão nº. 2007/365/CE de 25 de maio, a Comissão e os restantes Estados-Membros deveriam ter sido notificados, estabelecida a “zona demarcada” e implementado um plano de ação para controlo deste inseto. No entanto, nada disto foi feito!
Só em 2025, ou seja, 10 anos depois é que a Câmara do Porto Santo começou a preocupar-se com o estado fitossanitário das palmeiras. Infelizmente, já demasiado tarde! Mas o mais preocupante, é que a Câmara do Porto Santo está a plantar palmeiras jovens, quando as plantas infestadas ainda nem foram retiradas e destruídas, coexistindo simultaneamente plantas doentes e plantas saudáveis! Todo este processo foi gerido com uma incompetência obscena pelo Presidente da Câmara do Porto Santo, o Sr. Nuno Melim Baptista!
As consequências estão à vista de todos, o desaparecimento do sombreamento e, por consequência, do arrefecimento natural da cidade e de toda a biodiversidade associada às palmeiras, o enfraquecimento do combate às alterações climáticas, pois são fundamentais na absorção o dióxido de carbono e a perda de uma das paisagens mais icónicas do Porto Santo: a entrada do cais.
