A arte de desvalorizar o inconveniente de Albuquerque

E ntão Miguel Albuquerque decidiu anunciar ao mundo — com aquela serenidade de quem nunca precisou de fazer contas ao fim do mês — que o subsídio de mobilidade para o madeirense não é prioridade. Claro que não é prioridade para ele. Prioridade é cortar fitas, invadir empresas para tirar fotografias e, claro, continuar a despejar milhões em campos de golfe, essa verdadeira obsessão regional que resolve todos os problemas… excepto os dos madeirenses.

E já agora, no meio desta filosofia tão iluminada de prioridades invertidas, fica a pergunta que grita sozinha: alguma vez te dignaste a ir a um balcão dos CTT, Miguelinho?

Porque antes de dizer que a mobilidade não é essencial, convinha já ter sentido na pele o que é viver como o madeirense comum — aquele que passa horas em filas para reaver o que é seu, enquanto o governo decide onde gastar milhões sem nunca meter os pés na realidade.

Porque aparentemente, aquilo que realmente transforma a vida do povo não é poder viajar sem vender um rim — não, não — é ter mais um campo de golfe para meia dúzia de iluminados baterem umas bolas ao fim de semana.

E estudos sobre o retorno económico dessas bolas de golfe para o madeirense? Zero. Nenhum. Nicles.

A prioridade é anunciar o projeto, mostrar as imagens bonitas, fazer pose e seguir viagem. O resto que se aguente.

É fácil dizer que o subsídio de mobilidade não é prioridade quando as viagens dele nunca passam pela tortura de procurar bilhetes que não custem metade do salário mínimo. É fácil quando nunca teve de escolher entre visitar a família ou pagar a renda. É fácil quando a mobilidade é garantida, confortável e financiada pelo erário publico, diga-se os nossos impostos.

O madeirense olha para isto e percebe o recado:

"A tua vida, o teu bolso e o teu acesso ao país não contam assim tanto."

Porque quando o governo regional decide o que é prioridade, o bem-estar do cidadão aparece sempre lá para baixo. Aliás, se alguém encontrar um único documento sério que prove que mais um campo de golfe enriquece o madeirense comum, que o coloque aqui no madeira opina.

A mobilidade do madeirense é secundária; o golfe, esse sim, é que é a jóia da coroa.