Resposta ao texto «Célia vai ao “beija-mão”. (link)
E ngana-se quem pensa que o PS-Madeira vive uma primavera interna. O texto que circula, com a excitação habitual de quem sonha com conspirações domésticas, tenta vender a ideia de que Célia Pessegueiro não passa de mais uma “boneca” de Avelino Conceição. É uma narrativa cómoda, preguiçosa e politicamente desesperada — e, claro, perfeita para quem precisa de reduzir a política a mexericos de tasca porque não tem argumentos sérios sobre propostas, estratégias ou futuro.
A tese central do ataque é simples: se a apresentação foi em Machico, então Machico manda no PS. Eis o brilhantismo analítico. Nada sobre projectos, estruturas, balanços ou a realidade prática de um partido regional. Apenas geografias mágicas onde uma sala em Machico se transforma numa prova irrefutável de vassalagem. É o tipo de raciocínio que confunde coincidência com destino e logística com feudalismo. Mas faz barulho — e isso basta.
Depois, a narrativa evolui para a prenda de Natal dos militantes, como se o partido funcionasse em regime de cabaz por voto. Curiosamente, quem levanta esse argumento revela mais sobre a própria visão da política do que sobre a de Célia Pessegueiro. Quem imagina militantes a trocarem consciência política por enlatados provavelmente fala por experiência. Fica o lapsus revelador.
O texto prossegue com a lista de vices “já escolhidos”, deputados “já alinhados” e futuras decisões “já tomadas” — tudo afirmado com a confiança típica de quem nunca pôs os pés numa reunião interna, mas jura que conhece os segredos todos. É o velho truque: quando faltam factos, fabrica-se a inevitabilidade. Quando falta análise, inventa-se o enredo. Quando falta coragem, atira-se o barro contra a parede a ver se cola.
O grande drama, segundo o autor, é que o PS-Madeira está condenado porque “são os mesmos”. Ironia das ironias: esta crítica é sempre feita por quem, há vinte anos, repete exactamente a mesma cassete sobre as mesmas pessoas com os mesmos argumentos. O PS pode mudar lideranças, orientações, discursos — mas para estes profetas da desgraça, o futuro é sempre o passado, desde que sirva para atacar.
No final, a acusação de que “não há almoços grátis” tenta soar profunda, mas cai no vazio. A verdade é simples: a candidatura de Célia Pessegueiro não é refém de fantasias nem de padrinhos imaginários. É refém, isso sim, da falta de seriedade de quem prefere narrativa tóxica a debate político.
E talvez seja precisamente isso que incomoda: quando não conseguem destruir uma liderança com argumentos, tentam fazê-lo com boatos. Se isso não é sinal de força de quem lidera — é sinal de fraqueza de quem escreve.
