Reposta a Nota do MO no texto «Liberdade não é escândalo»


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A discussão sobre liberdade, nudez parcial e espaço público tem um problema inicial: nenhuma das palavras-chave foi definida. Fala-se de “bom senso”, “respeito”, “código de convivência” e até “turismo rasca”, mas tudo isto permanece num nevoeiro conceptual que impede qualquer conclusão sólida.

Do ponto de vista lógico, o argumento reduz-se a isto: algumas pessoas ficam incomodadas com a quase-nudez → logo, a quase-nudez é objetivamente errada. Mas o incómodo não cria norma. Se a sensibilidade individual bastasse para determinar o limite da liberdade, então nada seria permitido — nem música, nem perfumes, nem manifestações, nem religião, nem política. Liberdade que depende do nervo moral do observador não é liberdade: é concessão paternalista.

Além disso, o texto oscila entre condenar “moralismos” e impor um moralismo ainda mais rígido, afirmando que a cidade “não é de nudistas”, como se o espaço público fosse propriedade identitária de um grupo específico. Não apresenta dados, nem provas, nem qualquer relação causal entre nudez parcial e dano real — apenas o hábito cultural de achar estranho. Hábito não é argumento.

Finalmente, tudo assenta num juízo circular: é falta de respeito porque incomoda, incomoda porque é falta de respeito. Nada se funda, tudo se repete.

O verdadeiro problema não é a pele exposta — é a fragilidade conceptual com que se tenta transformar preferências pessoais em regras universais. A convivência urbana exige respeito, sim, mas respeito baseado em danos reais, não em sensibilidades flutuantes. A cidade é de todos, não dos códigos morais de quem fala mais alto.


Nota do MO: façam como entenderem, para nós está bem, especialmente no Inverno.