A política da segregação: o sonho proibido da extrema-direita.


A extrema-direita disfarça o ódio de ordem e transforma a desigualdade em política.

A extrema-direita regressa ao palco político com a mesma estratégia ancestral: dividir para dominar. Sob o disfarce da “liberdade de expressão”, semeia o medo, a desconfiança e o ódio entre iguais. É uma velha arte de manipulação — fabricar inimigos internos, fomentar o ressentimento e transformar a desigualdade em virtude. É assim que nascem as ditaduras.

A história não mente: todo o regime fascista começou com a segregação social, a separação deliberada entre os “puros” e os “indesejáveis”. Ontem foram os negros, os judeus, os pobres. Amanhã poderão ser os imigrantes, os homossexuais, os trabalhadores, ou simplesmente quem ousar pensar de forma diferente. É essa a promessa velada da extrema-direita: um país dividido em castas, os ricos enclausurados em condomínios dourados, e o resto a sobreviver entre ruínas.

A segregação social é a institucionalização da exclusão. É o momento em que o espaço público deixa de ser de todos e passa a ser propriedade dos privilegiados. As chamadas “zonas exclusivas” são o protótipo desta distopia: bairros de luxo rodeados de muros, segurança privada e um silêncio confortável, silêncio comprado à custa da miséria alheia.

Não é ficção. O apartheid foi real. Um regime que erigiu fronteiras raciais em nome da “ordem”. Que separou as pessoas pela cor, origem e estatuto social. Que transformou o privilégio numa lei e a desigualdade numa norma. A extrema-direita, ao romantizar este modelo, sonha com uma versão moderna da mesma perversão: o apartheid económico, onde o dinheiro decide quem é cidadão e quem é invisível.

Perguntem-se: é este o futuro que desejam? Um país de bairros de lata e de vidas descartáveis, onde o trabalhador é um número e o cidadão um obstáculo? Acham mesmo que os portugueses que emigraram partiram ricos, donos de negócios e de casas? Ou foram, como tantos outros, vítimas de um sistema que os expulsou da sua própria terra?

O discurso extremista quer que acreditem que o inimigo é o vosso vizinho, o estrangeiro, o pobre, o diferente. Mas o verdadeiro inimigo veste fato e gravata, compra silêncio e vende pátria. E enquanto discutimos entre nós, constroem os muros, não de tijolo, mas de indiferença.

A escolha é simples: ou lutamos por uma sociedade justa, livre e igualitária, ou deixamos que a segregação volte a ser lei. A liberdade não morre de um golpe, morre de apatia, de distracção e de silêncio.

A liberdade exige vigilância. Quem cala perante a injustiça, consente o regresso da tirania.