E stá finalmente explicada a relação entre Pedro Calado, Miguel Albuquerque e Luís Montenegro. E, por consequência, também o silêncio do primeiro-ministro perante a sucessão de escândalos que envolve o Governo Regional da Madeira e o universo empresarial que o sustenta.
Afinal, todos comem da mesma gamela. A gamela do AFA.
A revista Sábado revelou que Avelino Farinha, dono do grupo AFA e arguido num processo de corrupção que envolve o ex-presidente da Câmara do Funchal e antigo vice-presidente do Governo Regional, Pedro Calado, vai integrar a comitiva oficial que acompanha Luís Montenegro a Angola. A viagem, para as celebrações dos 50 anos da independência e para a assinatura de contratos de financiamento público português, vai garantir à AFA um dos maiores envelopes de investimento externo de sempre, 3,2 mil milhões de euros.
Coincidência? Claro que não.
É o mesmo Avelino Farinha que o Ministério Público acusa de liderar, com Custódio Correia, uma teia de “promiscuidade” com o poder político madeirense. O mesmo grupo que faturou 339 milhões de euros em contratos públicos na Madeira entre 2012 e 2023. O mesmo que, segundo a investigação, beneficiou de informações privilegiadas transmitidas por Pedro Calado sobre o concurso do novo Hospital Central da Madeira, um negócio que começou com 205 milhões de euros e acabou por ultrapassar os 340 milhões.
E é este empresário, sob investigação por corrupção e branqueamento, que o primeiro-ministro de Portugal leva consigo como símbolo da “internacionalização da economia portuguesa”?
Eis o retrato perfeito da promiscuidade entre o poder político e o poder económico. Enquanto o Ministério Público fala em redes de influência, almoços secretos e favorecimentos milionários, Luís Montenegro transforma um arguido em parceiro de Estado.
Compreende-se agora por que razão o primeiro-ministro nunca retirou a confiança política a Miguel Albuquerque, apesar de todo o lamaçal que envolve o seu governo. Como poderia fazê-lo? O fio que liga todos estes nomes é o mesmo: o dinheiro do AFA, o poder regional e as cumplicidades nacionais.
O PSD, tanto em Lisboa como no Funchal, mantém-se unido não por valores ou convicções, mas pela teia de interesses que os entrelaça.
Enquanto isso, Pedro Calado escreve textos emotivos no LinkedIn, falando de injustiças e perseguições, como se fosse vítima e não protagonista. Fala de valores e dignidade, enquanto as investigações revelam contratos, favores e influências.
A corrupção, essa, segue tranquila o seu caminho, com passaporte diplomático e assento na comitiva do primeiro-ministro.
Será tudo de borla? Claro que não.
A dúvida é outra: quem é o verdadeiro beneficiário? Montenegro? O PSD? Ambos? Talvez um dia saibamos.
Por agora, basta olhar para Angola: um país onde o poder e o dinheiro caminham juntos há décadas. Luís Montenegro parece ter aprendido depressa.
