T al como o que impede a Madeira de resvalar para uma ditadura é o facto de ser parte integrante da República Portuguesa, também aquilo que, nas últimas décadas, tem evitado que a Região mergulhe na fome e na miséria são os fundos europeus que aqui chegam aos milhões. A Madeira não existe isolada no meio do Atlântico: tudo o que aqui sucede tem repercussões no exterior, inclusive em Bruxelas.
Quando o povo madeirense tolera e legitima uma “elhite” política medíocre e corrupta, não está apenas a permitir que meia dúzia coloque ao bolso dinheiro que pertence a todos. Está igualmente a transmitir ao exterior a ideia de que a própria população é alheada, resignada e indiferente ao uso indevido do dinheiro público. Uma verdadeira Sicília do Atlântico.
Ah povo enganado…
A Madeira viveu séculos sob vários sistemas de exploração, e a alma de escravo permanece. O madeirense continua escravizado, não já a Lisboa, que outrora absorvia a riqueza aqui gerada, mas agora a uma minoria de interesses instalados, a Farinhas, Sousas, Ramos e a uma “elhite” política que governa não em nome do bem comum, mas do seu próprio umbigo.
Passados cinquenta anos de Autonomia, importa perguntar: que Autonomia é esta? Qual é, afinal, a diferença entre ser explorado a partir do continente ou ser explorado por corruptos regionais?
E tudo isto tem impacto real. Também em Bruxelas. Quando o Governo liderado por Albuquerque caiu sob pesadas suspeitas de corrupção, a Comissão Europeia divulgou internamente um flash report aos seus funcionários. Isto demonstra que acompanham atentamente o que se passa na Região. A preocupação da Comissão não nasce de um qualquer capricho tecnocrático: resulta da compreensão clara da degradação institucional que impera na Madeira e da forma como fundos europeus são frequentemente instrumentalizados para enriquecer poucos e distorcer o desenvolvimento de uma terra com enorme potencial.
Enquanto Albuquerque e esta “elite” capturada e corrupta permanecerem no poder, dificilmente haverá motivos para otimismo. E os responsáveis? Todos aqueles que, por conveniência ou resignação, preferiram preservar os seus pequenos privilégios em vez de defender o interesse coletivo.
Uma verdadeira alma de escravo…
