Confusão na gestão turística, claramente falhamos.


Mitigar a inércia mas manter os problemas

A Opinião Pública tem estado forte a contestar várias realidades deste nosso novo turismo. A Secretaria de Eduardo Jesus, os que falharam, estão a aceder em mitigar a inércia de não dar o braço a torcer, mas mantêm os problemas. Vemos vedações no Fanal, um mal menor, e uma campanha de sensibilização do turista selvagem "instagramável"... que não gramamos.

Nunca houve um debate central na estratégia turística com o equilíbrio entre volume (acessibilidade) e valor (qualidade e sustentabilidade), função do GR e não da ganância dos empresários. Lamentavelmente, entramos no modelo de turismo de massas, onde o preço baixo é o motor principal, e não a qualidade do destino ou a eficácia das campanhas promocionais. Estávamos bem e iludimo-nos com a massificação.

O poder absoluto do preço na acessibilidade

É inegável que, para um destino insular como a Madeira, a acessibilidade aérea é o fator crítico. O turismo só se torna "massa" quando o custo de entrada é baixo, e as companhias low-cost (LCCs) são mestres em reduzir essa barreira. Fomos nós pelo GR que abrimos esta porta! Até porque odeiam ferries que eventualmente poderiam receber essas culpas.

As LCCs funcionam como um "departamento de marketing" em substituição da Associação de Promoção da Madeira/ Turismo, de forma mais eficaz. Por exemplo, uma promoção de €20/bilhete tem um impacto imediato no volume de reservas, muito superior a de uma campanha publicitária multimilionária que promova a cultura ou a natureza da ilha. O preço é a mensagem mais clara e mais persuasiva.

Assim, as LCCs trazem "milhões" de turistas que, de outra forma, não viajariam, ou escolheriam destinos mais próximos. O problema é que traz desafios, sobretudo da maneira como Madeira que nada estudou, pensou só em injetar uma enorme quantidade de gente que pelo volume produz receita na economia local. Mas, também vemos que não chegam para despesas como o outro turismo que já tivemos, o crescimento vai para supermercados, rent-a-cars, etc, ficando outros por vezes com enos receitas, a restauração, por exemplo.

A Madeira atraiu um perfil de turista que não valoriza o destino (nota-se), focando-se apenas na poupança.

Abdicarmos do controlo do perfil de entrada dos turistas que deveríamos querer, aceitamos as "manadas" de turistas que são transportados de forma massificada e que tratam o destino como um bem transacionável de baixo valor.

Há retorno mas nem GR nem os empresários à sua volta deixam ou querem, afinal foram eles que promoveram o turismo massificado. O caminho que muitos destinos procuram é a desvinculação do preço do bilhete como fator decisivo. O foco deve passar a ser a atração de nichos de mercado que não são price-sensitive:

  • Turismo de Aventura/Natureza (Valorização das Veredas): Paga-se pelo serviço de guia e pela experiência.
  • Turismo de Saúde e Bem-Estar: Paga-se pelo luxo e pelo serviço especializado.
  • Turismo de Congressos e Negócios: Paga-se pelo evento e pelo alojamento de topo.

A promoção do golfe com o turismo massificado é um contrassenso. A campanha de turismo, neste cenário, deixa de ser um convite genérico para "visitar a Madeira" e passa a ser uma curadoria do destino, comunicando a qualidade, a exclusividade, o respeito e o valor que a ilha espera dos seus visitantes.

A Madeira tem de decidir se o objetivo é ter 5 milhões de turistas que gastam €500 cada (modelo low-cost) ou 1 milhão de turistas que gastam €2.500 cada (modelo high-value). Depender do preço do voo garante o volume, mas compromete a sustentabilidade e a identidade cultural do destino.