D izem-nos que Portugal viveu meio século de corrupção e que, depois de 50 anos de PS e PSD, a única saída é atirar o país para os braços do CHEGA – como quem troca humidade por bolor e chama a isso progresso. É sempre fascinante observar esta súbita fé messiânica em políticos que garantem pureza moral ao mesmo tempo que tropeçam em processos, contradições e actos públicos que fariam corar metade da Madeira… e a outra metade fugiria para o Porto Santo.
A ladainha repete-se: “os outros são corruptos”. Óptimo. Prova? Silêncio. Proposta concreta? Nada. Mecanismo institucional? Nulo. Fiscalização séria? Nem vê-la. É o típico argumento de café: basta gritar “50 anos!” para que ninguém repare que a solução proposta não resolve nada, não explica nada e não sustenta rigorosamente nada. É espuma, feita para quem confunde indignação com pensamento e ruído com visão.
A lógica é tão absurda quanto comum: se as casas da Madeira têm infiltrações, a solução é dinamitar as fundações. Se a estrada tem buracos, a solução é deitar-lhe fogo. A política do “rasgar tudo e logo se vê” é o truque clássico de quem não tem competência para construir coisa alguma. Quem promete anticorrupção sem reformas sérias, sem sistemas de controlo, sem reforço das instituições, vende apenas um produto: ressentimento embalado em plástico barato.
E há ainda a ironia suprema: atacar corrupção enquanto se idolatra um partido que já acumula polémicas internas, financiamentos duvidosos, condenações públicas e uma longa lista de personagens que tratam a ética como decoração facultativa. É a velha estratégia de apontar o dedo para não mostrar as próprias mãos.
A corrupção não vai acabar por decreto emocional, nem por berraria televisiva, nem por salvadores auto-ungidos. Acaba com instituições fortes, transparência real, fiscalização efectiva e coragem política – não com slogans que só servem para alimentar os mesmos ciclos de impunidade que dizem combater.
Se queremos um país decente, temos de exigir reformas, não milagres; responsabilidade, não messianismo; seriedade, não idolatrias fáceis. Portugal merece políticas que resolvam problemas, não teatros de indignação para entreter a plateia. O resto é folclore populista – e o preço desse folclore, como a Madeira sabe demasiado bem, paga-se sempre ao cêntimo.
.jpg)