Ferry da Madeira: um estudo para que nada mude?


Lê-se o caderno de encargos para o "estudo” sobre o ferry e fica a sensação de déjà vu.

M uito palavreado técnico, muita conversa sobre sustentabilidade e integração europeia, blá , blá , blá mas, na prática, tudo aponta para manter o status quo e não beliscar o domínio de quem já controla o transporte marítimo de mercadorias na Região.

O documento evita discutir o verdadeiro problema: a dependência estrutural da Madeira de um único grupo económico, que há décadas dita os preços e as condições da logística regional.

Sem coragem para mexer aí, qualquer estudo será apenas mais um exercício académico, muito bonito no papel, mas irrelevante na vida real.

No documento nem se consegue ler questões chave como:

  • Integração do serviço numa estratégia plurianual, vital para garantir sustentabilidade financeira;
  • Avaliação de modelos híbridos de operação, combinando passageiros, veículos e carga geral em rotas regulares;
  • Adoção de critérios ambientais e tecnológicos exigentes, com incentivo à utilização de combustíveis de baixo teor carbónico e soluções digitais de gestão portuária e respetiva salvaguarda de elegibilidade a fundos comunitários;
  • Planeamento e financiamento conjunto das infraestruturas associadas, potencialmente enquadrado num modelo de PPP.

Mas, acima de tudo, falta o essencial: vontade política de garantir concorrência, transparência e alternativas reais de transporte aos madeirenses e porto- santenses.

Um ferry de verdade implicaria abrir o mercado e reduzir a dependência. Mas isso, ao que parece, continua a ser tabu.

Enquanto o transporte marítimo for tratado como feudo intocável, a Madeira continuará isolada e refém de interesses privados travestidos de “serviço público”.



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