O último episódio do debate sobre o Orçamento do Estado expõe mais do que divergências políticas: revela a tentativa sistemática de manipular as percepções, com alegações de submissão e “mentiras descaradas” que carecem de qualquer evidência concreta. Em vez de apresentarem dados, documentos ou métricas, os discursos populistas insistem em termos vagos — “histeria política”, “submissão permanente”, “difusão de mentiras” — transformando a opinião em facto e a retórica num instrumento de poder.
Consideremos: é suficiente que o JPP proponha um fundo para a modernização das PME da Região para que o PSD seja automaticamente acusado de incapacidade e subserviência? A lógica não se sustenta. A argumentação generaliza comportamentos isolados e interpreta cada reação crítica como prova de conivência ou submissão. Esta narrativa constrói um inimigo imaginário, ignorando por completo a complexidade do Orçamento, a aplicação da Lei das Finanças Regionais e o impacto real das medidas propostas.
A proposta do “Fundo ZFM – Desenvolvimento Regional RAM” é pintada como revolucionária e benevolente, mas a análise concreta exige evidência: que receitas seriam afetadas, qual o impacto nas empresas, como seria gerido o fundo? Sem estes dados, qualquer afirmação sobre benefícios diretos é mera conjetura, não argumento. Da mesma forma, as acusações ao Diário de “difundir mentiras políticas” ignoram a necessidade de provas objectivas; insinuar intenções editoriais sem dados é recorrer à retórica ideológica, e não ao jornalismo.
O cenário que emerge é claro: em vez de confronto racional sobre políticas e impactos económicos, assiste-se a dramatização e ataques pessoais. Os cidadãos merecem um debate sério, transparente e fundamentado, não slogans inflamados nem acusações infundadas. A política não é teatro; é responsabilidade. E o que se exige é mérito, clareza e respeito pela democracia, pela liberdade de expressão e pela verdade.
O desafio mantém-se: discernir o que é retórica de marketing político do que é política eficaz. Enquanto alguns preferem manipular as perceções e inflamar as divisões, a cidadania exige ponderação, dados concretos e compromisso com o bem comum. Este é o único caminho para uma democracia informada e uma governação responsável na Madeira.
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