O episódio da TV angolana por conta de André Ventura


Ventura vive dos conflitos. Mantenham a amizade.

Polémica sem Prova, Debate sem Razão.
Quando a Retórica Substitui a Razão e o Debate se Perde.

O episódio entre André Ventura e a Televisão Pública de Angola expõe, mais do que um choque diplomático, a fragilidade argumentativa que costuma substituir a discussão política séria. Dois pontos merecem ser sublinhados.

Primeiro: as afirmações hiperbólicas, do jornalista que profere que “os portugueses emigrarão” se Ventura ganhar, ao político que acusa um chefe de Estado estrangeiro de “humilhação”, “tirania” e “roubo”, são performativas, não explicativas. Uma previsão sobre os movimentos migratórios exige provas: dados, mecanismos sociais e económicos que liguem causalmente uma eleição a uma vaga de emigração. Esta ligação não foi demonstrada. Sem critério de teste ou evidência, a profecia transforma-se em propaganda.

Segundo: quando um Presidente estrangeiro recorda factos históricos, neste caso, as práticas opressivas do colonialismo, não se estabelece automaticamente um ultraje dirigido ao povo de Portugal; estabelece-se antes um juízo histórico e moral que cabe analisar no seu contexto. Confundir diagnóstico histórico com insulto nacional é uma falácia de leitura intencional: toma-se o conteúdo pelo que supostamente dita sobre a identidade coletiva, e não pelo que verdadeiramente afirma.

Um debate maduro exige quatro coisas que aqui faltaram: 

  1. clarificação dos termos (o que se quer dizer exactamente por “humilhação” ou por “emigração massiva”?);
  2. exposição das premissas — quais as hipóteses que ligam eleição e êxodo?;
  3. justificação factual, dados e provas;
  4. abertura à falsificação, que condições convenceriam o autor da afirmação de que estava enganado? Sem isso, restam insultos e reacções de ocasião que inflamam audiências mas não esclarecem ninguém.

A troca de impropérios empobrece o entendimento público. Se queremos política que responda a problemas reais, habitação, mobilidade, relações externas, temos de substituir os ataques performativos por argumentos que passem pelos testes básicos da razão, definição, evidência, lógica e teste. Até lá, as frases ruidosas ficarão para o teatro da polémica, e não para a governação responsável.

Resposta da TPA: