A reacção pública desencadeada pelo episódio entre a TPA e André Ventura revela menos sobre Angola e muito mais sobre a fragilidade discursiva do líder do Chega. Antes de qualquer juízo emocional, convém exigir precisão: onde reside exactamente a “humilhação” de Portugal, se o comentário angolano se dirige exclusivamente ao comportamento de um político específico? E que definição de “vergonha nacional” permite que a crítica externa a um candidato, algo perfeitamente comum em democracias maduras, seja convertida num ataque ao país inteiro?
A narrativa construída pelo Chega exige que aceitemos, sem escrutínio, que qualquer contestação dirigida a Ventura equivale a uma afronta à Pátria. Mas, se levada a sério, esta lógica implicaria que a dignidade nacional depende do silêncio alheio perante excessos internos. Estaria Portugal preparado para aplicar este critério a todas as críticas internacionais? Ou apenas às críticas que incomodam o Chega?
Ao dramatizar declarações de um pivô televisivo como se fossem uma agressão de Estado, Ventura procura transformar um incidente mediático numa cruzada patriótica. No entanto, esta transposição é insustentável: se um jornalista angolano não representa a totalidade de Angola, também o desconforto de Ventura não representa a sensibilidade portuguesa. A tentativa de elevar um comentário mordaz a questão diplomática revela mais zelo performativo do que preocupação genuína com as relações bilaterais.
A reacção subsequente, insultar o Presidente angolano e insinuar um declínio moral das instituições daquele país, apenas aprofunda a incoerência. Se a queixa inicial era o alegado desrespeito por Portugal, como justificar a resposta imediata assente no mesmo registo depreciativo? A indignação perde substância quando adopta precisamente o comportamento que condena.
A verdade é simples, um líder político adulto, seguro das suas ideias e da confiança eleitoral que reclama possuir, não precisa de transformar cada crítica externa numa epopeia nacionalista para ocultar vulnerabilidades internas. O país não exige inflamados actos de vitimização, exige rigor, estabilidade emocional e capacidade de distinguir o essencial do irrelevante. O resto é ruído, e ruído que não serve Portugal.
Resposta da TPA:
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