Está a ser um fardo pesado controlar a Comunicação Social
E xiste um jornal, chamemos-lhe "A Verdade Paralela", cuja manchete mais importante teima em não ser impressa. O seu proprietário é um arguido em processos judiciais de alto perfil, dos que não se apagam para regozijo e, como seria de esperar, as evoluções na justiça e a cobertura crítica na restante comunicação social são uma fuga a 7 pés. A verdadeira e inescapável notícia do dia, afinal escapa-se.
Em vez de abordar a realidade factual que o cerca, o jornal "A Verdade Paralela" embarcou numa estratégia de autopreservação baseada na saturação e no desvio de atenção. As suas páginas e o seu site tornaram-se um campo de manobra para a "treta" noticiosa mais elaborada e diversificada.
Assistimos, assim, a uma dança constante de manchetes sobre dramas de celebridades ressuscitados de há uma década com novos ângulos irrelevantes. Investigações detalhadas e exaustivas sobre o potencial formato de um novo sinal de trânsito numa cidade remota. Artigos de opinião inflamados sobre a etimologia da palavra "melancia" e o seu impacto na agricultura moderna. Exclusivos bombásticos que, após leitura atenta, revelam ser meros comunicados de imprensa sobre o lançamento de um novo sabor de iogurte. Poderia ter sido mauzinho e meter o dedo na ferida.
A verdadeira "notícia", o proprietário e os seus problemas legais, é empurrada para nenhures, simplesmente ignorada. A meta é clara: ocupar todo o espaço mental e digital do leitor com "ruído", garantindo que o público se afogue em irrelevância antes de ter tempo de se concentrar no que realmente importa.
Do ponto de vista jornalístico, é um falhanço ético. Do ponto de vista da estratégia de relações públicas (e de fuga), é uma obra-prima da distração. A sua capacidade de gerar, dia após dia, uma quantidade industrial de conteúdo perfeitamente inútil para ofuscar um único facto inconveniente é inegável.
E é por esta mestria em transformar a informação num puro espetáculo de fumaça e espelhos, por esta dedicação incansável à arte da perda de tempo, que, como entretenimento puro e duro, o jornalismo transformado em comédia de situação e suspense político, merecem uma assinatura.
Não há Liberdade de Imprensa e querem calar a Liberdade de Opinião porque dói... Mudem, jornalistas, juntem-se à Opinão Pública, libertem-se! Se ficam são cúmplices.


