O Núcleo Regional da Quercus da Madeira vê com grande preocupação as notícias recentemente vindas a público sobre a ampliação e construção de novos campos de golfe na região.
C onsideramos que esta opção pelo investimento público no golfe, no contexto regional e global, revela “miséria de cabeça” por parte do governo regional. Evidencia uma incapacidade de hierarquizar racionalmente prioridades.
Surpreende que o investimento no golfe, tão propalado como tendo retorno garantido, seja incapaz de aliciar a iniciativa privada a avançar por si só, sem o assistencialismo do governo, quando o turismo regional bate recordes de proveitos e tem uma dimensão assinalável, responsável por uma parte importante do PIB regional. Até os prize-moneys dos torneios são subsídio-dependentes!
Enquanto isto, a quantidade de resíduos produzidos na região continua a crescer e a Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos da Meia Serra já está a operar acima da sua capacidade de incineração.
Problemas nas redes de drenagem de águas residuais, subdimensionamento de estações elevatórias ou mau funcionamento de ETARs estão na origem de descargas recorrentes de águas residuais não tratadas na costa sul da Madeira. Existem aglomerados populacionais que não são servidos por rede de recolha e tratamento de águas residuais e há concelhos com grande crescimento turístico que têm uma rede rudimentar.
As projeções climáticas mais recentes para a região apontam para uma redução da precipitação anual. Para o período 2021-2050, a precipitação anual sofrerá uma redução de 10 a 16% ou, no pior cenário, uma redução de 40 a 48%. Isto significa que vamos ter de reduzir o consumo, porque não vai haver água suficiente.
A redução da disponibilidade de um recurso só será aceite pacificamente se for feita com justiça e, na Madeira, existe um histórico de conflitualidade associada à água que o governo não deve ignorar.
As áreas com aptidão agrícola têm vindo a ser delapidadas pela pressão urbanística, sem que se veja, por parte do governo, a preocupação de conservar esse recurso vital que é o solo agrícola. Não entendemos a ausência de uma reserva agrícola e consideramos criminosa a promoção de campos de golfe e imobiliário associado em áreas com aptidão agrícola. Em caso de conflito ou escassez global, esta opção pode constituir um risco sério para a segurança alimentar dos madeirenses.
Não somos contra o turismo! É uma atividade que está para a economia como um medicamento para um problema de saúde – na dose certa, resolve; em excesso, torna-se tóxico e até pode ser fatal! A opção não pode ser tudo ou nada. Deve ser uma dose otimizada! Infelizmente já temos muitos sinais da toxicidade do turismo. E não é o golfe que vai requalificar o destino. É a gestão dos resíduos, o tratamento das águas residuais, a gestão da água, a conservação dos solos, da natureza e da paisagem.
Elsa Araújo
Presidente do Núcleo Regional da Madeira