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Há momentos em que temos de deixar de olhar para o nosso umbigo, levantar a cabeça, perceber o que nos rodeia e agir em conformidade.

O próximo acto eleitoral (presidenciais) é um desses momentos.

D os 13(?!?!) candidatos (8 já formalmente anunciados, 5 em ponderação), apenas os que já avançaram "interessam" para esta análise: Henrique Gouveia e Melo (ind.); Marques Mendes (PSD); André Ventura (CH); Cotrim de Figueiredo (IL); António José Seguro (PS); António Filipe (PCP); Catarina Martins (BE); e Jorge Pinto (L).

André Pestana, Tim Vieira, Joana Amaral Dias, Tino de Rans e Manuela Magno, embora já tenham "ameaçado" avançar, ainda não concretizaram a candidatura. E não podemos ignorar o candidato a candidato, Manuel João Vieira...

Temos, assim, dois blocos de candidatos declarados; simplisticamente, quatro à direita e quatro à esquerda.

Embora o eleitorado luso tenha demonstrado, até há pouco tempo, uma preferência global pela ala esquerda (bem ou mal, o PS terá de ser incluído nessa área), a presença do candidato "independente" Gouveia e Melo (e as diatribes venturescas, que ainda arrastam alguns mais crédulos) pode(m), desta vez, desequilibrar a balança para a direita. O único "descartável" dessa área parece ser o candidato apoiado pela IL (ainda não tem substrato de apoio popular que "atrapalhe" os outros), mas nunca fiando. Quanto aos demais, e, se as sondagens não forem, uma vez mais, enganadoras, flutuam todos entre um máximo de 23/24% (no caso de Marques Mendes e Gouveia e Melo) e os 15/14% (no caso do Ventura), com Seguro a intrometer-se, nesta altura, em terceiro lugar, mas com Ventura mais próximo do que mais perto dos dois da frente (18/17%).

Parece evidente (a não ser que se dê uma surpresa idêntica à de Nova Iorque) que nenhum deles conseguirá a eleição à primeira.

A questão problemática que se levanta é que nenhum dos candidatos à esquerda tem, neste momento e, pelo andar da carruagem, nem terá, a abrangência necessária para se intrometer numa disputa pela segunda volta; desde o já referido candidato "rosa", que parece reunir pouco mais de 17%, passando pelos candidatos a marcar território (PCP, BE e L), que nem perto dos 5% alcançam cada um.

Temos assim um cenário pouco animador quanto ao desenrolar deste acto eleitoral, com a prevista incapacidade de a esquerda conseguir um lugar na segunda volta.

Passam os anos e, consequentemente, os actos eleitorais, e a esquerda portuguesa continua a insistir no contínuo medir de pilas (desculpem o meu francês) em vez de agirem com inteligência e pragmatismo.

No cenário apresentado, por muitas voltas que dêem, por muitas contas que façam, a direita terá SEMPRE pelo menos dois candidatos à frente do melhor da esquerda. E serão esses a disputar a segunda volta. Depois, não adianta engolir sapos ou tapar as caras com a mão, a m*rd* já está feita (lá está de novo o meu francês).

Ou a esquerda (TODA!) ganha juízo ou voltamos a ter um presidente disposto a aparar todas as manigâncias de um Governo de direita ou a criar problemas e obstáculos a um de esquerda. O que se espera de gente lúcida e consciente da realidade é que criem as condições para, na segunda volta, haver um candidato que se oponha a qualquer dos elementos da direita que consiga passar. E, por muito que custe, isso só é possível se os candidatos à esquerda de Seguro abandonarem a corrida e, com o intuito mais didático possível, explicarem aos seus putativos eleitores por que é que devem, do mal o menos, entregar o voto ao candidato que nem o PS queria. Ou isso, ou arquem com as consequências de mais 10 anos de um presidente “direitolas”. Com a manutenção de uma bancada significativa às ordens de Ventura, dificilmente teremos, nesse período, governos que se preocupem mais com a área social e os trabalhadores e menos com o capitalismo e os patrões. Depois, não vale a pena chorar sobre o leite derramado...

Não acredito que António José Seguro seja a pessoa mais indicada para a presidência da República Portuguesa, com todos os defeitos que tem e as características negativas que carrega, mas, no panorama actual, é o menos mau.

Como já referi, há alturas em que temos de ser pragmáticos e escolher o mal menor; este é um desses momentos.

Com as sondagens a mostrarem dois candidatos da direita à frente (Mendes e Melo) e com Ventura a preparar-se para gastar os últimos cartuchos para não ter de se “demitir” de novo e, de novo, voltar a candidatar-se a dirigente da sua agremiação criminosa, mais vale engolir em seco e jogar pelo Seguro...

Fernando Letra