(ou pelo menos a tentativa desesperada de parecer importante)
I maginem que estão numa universidade que caminha lentamente — sem dignidade — rumo à falência. Cortes de verbas, alunos em fuga, edifícios a ranger. E o reitor e a sua protegida Cristina Pinheiro (endogamia académica?) numa epifania de pura genialidade retórica, procuram salvar a honra da instituição… com uma conferência internacional sobre… saúde da mulher no século XIX.” É a salvação económica com debates históricos sobre velhinhas do século retrasado.
Sim, é isso mesmo que o pessoal de “pensar bastante, mas trazer pouco” decidiu fazer. Imaginem os temas oficiais da conferência. Eis a tradução (literal, porque não há outro modo de ser justo):
- Medical Discourses and Women’s Health in the 19th century → “Discursos médicos e saúde das mulheres no século XIX”
- Women’s Journals and Health Discourse → “Jornais de mulheres e discurso da saúde”
- Maternal Health and Childbirth → “Saúde materna e o parto (nascimento de crianças)”
- Women in Medical Professions → “Mulheres nas profissões médicas”
- Women’s Mental Health → “Saúde mental das mulheres”
- Sexual Health and Reproductive Rights → “Saúde sexual e direitos reprodutivos”
- Women and Infectious Diseases → “Mulheres e doenças infecciosas”
- The Intersection of Class, Race, and Women’s Health → “A intersecção de classe, raça e saúde das mulheres”
- Sexual Morality, Purity, and Public Health Campaigns → “Moral sexual, pureza e campanhas de saúde pública”
- Women’s Health in Literature and Art → “Saúde das mulheres na literatura e na arte”
- Diet, Exercise, and Women’s Physical Health → “Dieta, exercício e saúde física das mulheres”
- Philanthropy and Public Health Initiatives Led by Women → “Filantropia e iniciativas de saúde pública lideradas por mulheres”
- Women’s Autonomy in Healthcare Decision-Making → “Autonomia das mulheres na tomada de decisões em saúde”
- Women and Disability → “Mulheres e deficiência”
Magnífico repertório, não? Quem precisa de cursos técnicos, de formação para o mercado, de empregabilidade real, quando se pode debater — com todo o respeito — a “pureza moral” no século XIX e o impacto da “arte” na saúde feminina?
Se fosses estudante, imagina a alegria: por favor, um curso que me prepare para pagar as contas, ou para sair da ilha, ou mesmo para trabalhar em algo útil… Não? Ok, troco por um workshop sobre… papel de gênero e vacinação de 1892.
No fim, a conferência serve como aquele grande cartel de oxigénio académico: dá a ilusão de que a universidade ainda existe, que há “atividade”, que há “pensamento crítico”. Mas, para os estudantes, pais, empregadores, é só mais um manual de sobrevivência retórica que tenta esconder que o barco afunda com conferencias sobre “saúde maternal no século XIX”.
Se a universidade fechar de vez pelo menos vai passar aos livros como “a instituição que achou que debates sobre moral sexual do século XIX iam salvar orçamentos de 2025. Bravo. Palmas
