Quando os hoteleiros preferem os escravos às pessoas
A verdade nua e crua, não há crise de mão-de-obra, há uma opção, pagar o mínimo e exigir o impossível. Quando um hotel de luxo cobra 300€ por noite e trata os trabalhadores como lixo, isso não é gestão: é um crime moral. Quando um patrão contrata mão-de-obra barata, sem formação, sem direitos e com a corda ao pescoço, está a montar uma fábrica de exploração.
Os madeirenses formam-se. Os madeirenses querem trabalhar com dignidade. Mas o sistema, o Governo que aplaude, os grupos hoteleiros que sorriem, as autoridades que bocejam, decidiu que é mais rentável importar quem aceita migalhas. Resultado? Jovens licenciados que emigram; cozinheiros formados que fogem; profissionais que passam de candidatos a invisíveis. E quem fica? Substitutos mal treinados, mau serviço, e lucro gordo para os donos.
O relato é vergonhoso e repetido: talheres sujos numa mesa de casino, vinho servido quente, garfos com resíduos secos, imagens que deveriam envergonhar qualquer um com um pingo de dignidade. Mas não envergonham: normalizam. Porque a lógica é perversa e clara: menos salário = mais lucro. Mais lucro = mais impunidade. Impunidade = mais exploração.
Sindicatos calados, fiscalização ausente, tribunais lentos: tudo concertado por omissão. A ARAE e a ACT fingem lançar avisos enquanto o sistema continua a devorar direitos. Os sindicatos que protegem os patrões em vez dos trabalhadores são cúmplices. Os que ficam em silêncio passam a fazer parte do assalto.
Não peço revolta violenta. Peço indignação organizada. Greves, boicotes, denúncias públicas, fiscalização ativa, campanhas de consumidores. Se um hotel pagasse bem, cumprisse horários e formasse funcionários, haveria filas de madeirenses a candidatar-se. Mas isso é incómodo para quem prefere mão-de-obra domesticada.
Grupo Pestana, e todos os que lucram com a miséria alheia: saibam, isto vai custar-vos caro, política e socialmente. A paciência tem limites. A tolerância tem um fim. A dignidade dos trabalhadores não é negociável.
A pergunta final é simples e corta como uma navalha: querem hotéis de luxo com salários de miséria, ou querem uma sociedade digna onde quem trabalha é respeitado? Se a resposta for a primeira, preparem-se, a tempestade social que aí vem não será bonita. Se for a segunda, comecem a pagar.
Acordem, madeirenses. Exijam salários justos. Exijam inspeções reais. Exijam respeito. Quem quiser explorar que faça as malas, a nossa terra não é oficina de escravos.
