O madeirense é tão inerte que qualquer dia também vai para a britadeira.


H á uma estranha quietude que se instalou na Madeira, uma espécie de inércia coletiva que permite que o tempo avance enquanto problemas sérios se acumulam sem encontrar resistência proporcional. Não é que as pessoas não vejam o que acontece; veem, comentam, indignam-se por momentos… e depois tudo regressa ao normal como se nada fosse. É como se a sociedade estivesse anestesiada, habituada a assistir às controvérsias políticas, às suspeitas de corrupção, às acusações da Justiça, aos negócios nebulosos, como se fossem episódios de uma novela interminável da qual já não se espera outro final. O madeirense permite a degradação da sua vida.

O Governo Regional de Albuquerque parece mover-se dentro deste ambiente de naturalização das irregularidades, onde práticas que no continente provocariam debates acesos, demissões imediatas ou escândalos de grande escala, aqui acabam por dissipar-se numa névoa de indiferença. Há uma espécie de pacto silencioso entre o entretenimento fácil, a informação superficial e a normalização de situações graves. Entre a vida pacata e o receio de enfrentar estruturas de poder enraizadas.

É injusto dizer que “o madeirense” quer pertencer à máfia, não é disso que se trata. Mas há uma sensação amarga de que muitos, cansados ou descrentes, já não acreditam que vale a pena enfrentar o sistema. E é precisamente nesse cansaço que o sistema vence, quanto mais pessoas capacitadas, críticas e exigentes se afastam ou emigraram, mais espaço sobra para que a narrativa dominante permaneça intacta e para que se continue a pintar quadros grandiosos de “somos os maiores do mundo”, enquanto por baixo se esconde o desgaste institucional.

Entretanto, a imprensa nacional expõe, a Justiça avança com acusações, o país inteiro olha… e a Madeira segue como se estivesse a viver uma outra realidade, um outro ritmo, uma outra interpretação dos factos. Há um desfasamento profundo entre a gravidade dos acontecimentos e a reação pública, ou a ausência dela.

No fim, fica a pergunta que ecoa, como romper este ciclo? Como despertar um sentido de responsabilidade cívica capaz de exigir transparência, integridade e mudança real? Talvez tudo comece quando a apatia for substituída por participação, quando o orgulho regional for compatível com a crítica construtiva, e quando se compreender que o silêncio nunca protege o povo, apenas protege quem dele se aproveita.

O madeirense é tão inerte que qualquer dia também vai para a britadeira. É impressionante como o madeirense permite impávido todo tipo de negociatas que já são descaradas por parte deste Governo Regional. Todo leque de situações que mereciam forte reprovação no continente e queda do Governo, aqui são normalizadas por um povo que consome curiosidades e entretenimento, para além de notícias do cantinho do céu, quando cá dentro e de lá de fora para cá, se reúne um antro de permanente crime, ilícito e abuso de poder que lesa a população. A imprensa nacional dá conta do que se passa e a Justiça confirma no global pelas acusações que move contra governantes e empresários, mas por cá tudo se normaliza, legitima e se esquece. Eles controlam tudo e o povo deixa-se controlar... por medo? É natural que as pessoas mais sãs e competentes não fiquem por cá, é por isso que se pintam os maiores do mundo? É por isso que o sistema vence?

Façam uma reflexão, o que está bem para o cidadão comum? A Saúde? O custo de vida? O ordenado? A qualidade de vida? A massificação? O ambiente? Os apoios sociais? Os lares? A natalidade? A habitação? Eu estava aqui o dia, é por isso que me impressiona.

Estão a montar com o medo a ditadura perfeita dentro de uma democracia fingida. Será que uma guerra vai mostrar o mesmo que a Covid mostrou? Estamos preparados para o quê nesta monocultura dos mesmos a abusar do poder?