H á algo de profundamente simbólico, e revelador, na mais recente iniciativa da ARDITI: lançar uma bola na Praia Formosa para “ouvir os sons dos humanos”. Uma espécie de exercício artístico-científico que procura captar vozes, risos e passos… enquanto o mar está carregado de descargas de esgotos, a ETAR da Praia Formosa não funciona e o cheiro que acompanha quem desce à praia é, no mínimo, inominável.
É difícil saber o que se pretende ouvir exatamente. O som das pessoas a tapar o nariz? O murmúrio da indignação? Ou o silêncio resignado de quem já percebeu que, nesta ilha, há sempre dinheiro para projetos inúteis, mas nunca para resolver o básico?
Enquanto isso, os esgotos continuam a ser despejados no mar, a qualidade da água degrada-se, os residentes convivem diariamente com odores nauseabundos e riscos ambientais, e a resposta institucional é… uma bola sensorial na praia. Um gesto financiado com dinheiros da União Europeia e dos contribuintes, não para melhorar a qualidade de vida de quem aqui vive, mas para queimar dinheiro em irrelevância.
É este o retrato da governação científica e tecnológica na Madeira, incompetência para o essencial. Falta tratamento de esgotos? Falta investimento sério em infraestruturas ambientais? Falta planeamento? Não faz mal, lança-se uma bola, escreve-se um relatório bonito e justifica-se a despesa.
A pergunta que se impõe já nem é retórica, quando vem a auditoria aos fundos europeus na Região Autónoma da Madeira? Quando é que alguém vai olhar, com seriedade, para a forma como estes milhões são gastos? Quando é que se vai avaliar se estes projetos servem os cidadãos ou apenas alimentam circuitos fechados de financiamento sem impacto real?
