O desenvolvimento segundo Miguel de Sousa


Água, Terra e Lucro.
A ilha que se explora, não a ilha que se protege.

M iguel de Sousa apresenta-se como defensor de mais um campo de golfe na Madeira. Nada de novo. A novidade seria vê-lo defender, com o mesmo entusiasmo, o futuro da ilha enquanto território habitável, sustentável e digno para quem cá vive, coisa que, manifestamente, não acontece.

Ex-político, empresário influente e figura recorrente nos corredores do poder regional, Miguel de Sousa fala do golfe como se a Madeira fosse um deserto à espera de irrigação milionária, e não uma ilha pequena, com recursos hídricos limitados, problemas graves de saneamento básico e uma população cada vez mais empobrecida. Para ele, parece que o futuro da Madeira cabe num green bem aparado e numa brochura para investidores.

O argumento é sempre o mesmo, turismo de qualidade, valor acrescentado, prestígio internacional. O resultado, também. Consumo intensivo de água, ocupação de território sensível, benefícios concentrados em poucos e impactos distribuídos por todos. A população fica com menos recursos, menos acesso à terra, menos margem para decidir o seu próprio modelo de desenvolvimento.

É difícil não notar que este modelo de “desenvolvimento” encaixa perfeitamente nos interesses de quem já tem muito a ganhar e pouco a perder. Quando se olha para a Madeira como um ativo a explorar, e não como uma comunidade a proteger, tudo faz sentido, mais golfe, mais luxo, mais exclusão. Menos futuro.

O que Miguel de Sousa parece não querer defender é uma ilha pensada para as próximas gerações. Uma ilha onde se invista em saneamento, habitação, diversificação económica, ciência útil e qualidade de vida real. Isso não rende fotografias aéreas nem jantares de investidores, mas constrói território.

No fim, fica a sensação desconfortável de que, para algumas figuras do poder económico regional, a Madeira não é casa, é negócio.