Q uase como uma defesa de honra, para segurar o eleitorado, todos os partidos de referência decidiram apresentar um candidato à Presidência a República. Pode fazer bem ao ego, mas é um jogo perigoso, porque não se trata de eleger deputados e os votos contam todos para o Método de Hondt depois repartir. Muitas vezes, os candidatos de partidos mais pequenos (à esquerda de Seguro, neste caso) não correm para ganhar, mas para medir forças para as Legislativas. O problema é que, ao contrário das Legislativas, onde a dispersão pode ser punida mas ainda elege deputados, nas Presidenciais a dispersão é um "tudo ou nada".
As eleições são mais diretas, tens uma maioria absoluta és logo Presidente da República, se ninguém alcançar, passam a uma segunda volta os dois mais votados. Aqui reside o perigo. A divisão de votos por candidatos que não têm hipótese, mas ocupam tempo e votos, podem dar a vitória à Direita, também com vários candidatos, mas todos eles mais bem colocados na generalidade das sondagens.
No Partido Socialista, devem acabar as animosidades contra Seguro e a ideia peregrina de dar alguma hipótese à Direita. Devem se lembrar que até Cunhal um dia mandou tapar os olhos e colocar uma cruz em Mário Soares. Daí para baixo, pergunto aos restantes candidatos com os respectivos votos o que vão conseguir por repartir tantos votos numa primeira volta? Em quem vão votar na segunda volta se passarem dois candidatos de Direita? Ninguém terá remorsos por isso? E depois passam a ataques inflados contra a Direita quando lhe estenderam o tapete vermelho?
Entendo que esta dispersão de votos não percebe que a Primeira Volta é a mais importante do que Segunda, para levar dois candidatos ao "sim ou sopas". Na Primeira Volta todos vão a jogo e dispersam votos que pode dar um resultado onde a Direita sabe que ganha, só precisando de saber se Direita moderada ou Direita radical.
Temos visto dias consecutivos de sondagens, às vezes penso que também elas alimentam os egos e que cada um dos candidatos quer ter uma onde está bem colocado. Para mim, as sondagem são hoje em dia instrumento de campanhas eleitorais e não retrato de um momento. Elas estão a ser usadas para fixar o "voto útil" à Direita. Não deveria dar resultados tão díspares em dias consecutivos. É uma vulgarização e descredibilização das sondagens.
Se a Esquerda for forçada a votar num candidato de Direita moderada para travar a Direita radical na segunda volta, a Direita moderada ganha com uma votação histórica, dando-lhe uma legitimidade reforçada que poderá usar para governar quase sem oposição de Belém. A Esquerda, ao fragmentar-se agora, arrisca-se a ficar sem voz durante cinco anos.
A mensagem é clara, António José Seguro tem sido em sucessivas sondagens o candidato da esquerda mais bem colocado, façam voto útil nele, porque o arrependimento é certo se passam dois candidatos da Direita à Segunda Volta. O exemplo de Cunhal e Mário Soares é o exemplo máximo de realpolitik: engolir o sapo ideológico para evitar o desastre institucional... eu diria Constitucional.
Fora as dinâmicas partidárias, até julgo António José Seguro um indivíduo sereno e bem formado para Presidente. Pensem nisso.
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