Morte anunciada ou recuperação consumada?


Foto de Diogo Brazão saída no JM de 28-11-2021

É dolorosamente triste observar esta morte gradual de uma fatia da nossa história, de um pedaço da nossa tradição. Para nós, deixar o Maria Cristina II morrer deste modo, é agonizante. Será que existe eutanásia para as embarcações e para marcos importantes da nossa história?

E quem enverga essa túnica preta com capuz e carrega a gadanha que ceifa esta nesguinha importante da nossa história? Precisamos de enumerá-los todos? 

São tão culpados desta situação desesperante aqueles que são proprietários desta embarcação e nada fazem para a recuperar, como também aqueles que têm responsabilidades políticas a nível municipal e regional que pecam por omissão, assobiando para o lado, fazendo de conta de que isto não é da sua responsabilidade. Somos ou não somos uma reserva da biosfera que respeita as suas raízes?

Onde está o dever de zelo das nossas entidades? Onde está o juramento que fizeram quando tomaram posse? Empurrar a responsabilidade de uns para os outros resolve alguma coisa?

 O Maria Cristina II construído com verbas da União Europeia, cerca de 275 mil euros (nessa época os valores eram em escudos), encontra-se a apodrecer no Caniçal, sem que nada, nem ninguém seja capaz de inverter esta situação degradante.

Apesar de ser uma réplica, foi construída respeitando todos os pormenores do carreireiro original que esteve na praia do Porto Santo, até ser desmantelado e, segundo alguns alegam, vendido para um país europeu. Este barco merece outra sorte já que o original é impossível recuperar.

Os carreireiros eram pequenas embarcações de madeira que transportavam passageiros e mercadorias entre a Madeira e o Porto Santo e aos quais os habitantes desta pequena insula devem muito. Aliás, é impossível contar a história do Porto Santo, sem focar a importância dos carreireiros e a coragem altruísta dos barqueiros que faziam esta travessia. Pensam que erguer uma estátua, dar o nome a uma praça ou a uma rua é suficiente?

Acham que os vossos filhos e netos não vos pedirão responsabilidades pela vossa inércia?

E, se nós estamos aqui a advertir para esta situação é porque nos sentimos responsáveis, pois de um modo ou de outro, fomos nós que vos elegemos e vocês deveriam representar e respeitar a vontade do povo. Não acreditamos que exista alguém que ame verdadeiramente o Porto Santo e não queira ver este barco restaurado.

E porque não estamos aqui para criticar, mas sim para alertar vamos ao que importa: SOLUÇÃO!

É possível, sim, reverter esta situação. 

1. Como seria feito o transporte do Maria Cristina II para o Porto Santo? O grupo Sousa deverá transportá-lo gratuitamente do Caniçal para o Porto Santo já que usufrui de isenção de taxas portuárias nos portos da Região Autónoma da Madeira. A edilidade municipal, em consonância com o Governo Regional, pode perfeitamente colocar esta ideia em prática. Só basta VONTADE e DIÁLOGO. Não é nenhuma extravagância. É apenas uma pequena contrapartida pelos benefícios auferidos.

2. Que destino dar à embarcação? Obviamente que não estamos a pensar pô-la a navegar novamente. A ideia, perfeitamente exequível, é colocar o Maria Cristina II num lugar fixo, servindo de atração, valorizando-o e valorizando esse lugar. Podemos sugerir alguns locais onde seria lógico colocá-lo: a Praça do Barqueiro; Rua dos Carreireiros; Zona do Penedo próximo do Porto de Abrigo.

3. Quem faria a recuperação? Nós conhecemos várias pessoas que querem oferecer algumas horas do seu trabalho, voluntariamente, sem receber qualquer remuneração. O regozijo de recuperar a embarcação seria o justo pagamento. E não estamos a falar de cor. Claro que a Câmara Municipal e o Gabinete da Administração Pública Regional no Porto Santo têm excelentes funcionários que certamente seriam exímios a fazer este trabalho se lhes for pedido. Senhor presidente Nuno Batista e senhor Roberto Silva já imaginaram que os vossos nomes poderiam ficar perpetuados na história da ilha se tomassem esta iniciativa que ninguém quis, anteriormente, levar a cabo?

4. Existem verbas para a recuperação? Se a nossa edilidade consegue despender milhares de euros para a pintura de um mural que homenageia um navegador que, porventura, apenas passou aqui na ilha, então também é capaz de comprar material que nem chegará perto do que foi gasto com esse mural. Se o senhor presidente acha que o Porto Santo fica “culturalmente mais rico” com este mural, não considera que ficará muito mais rico abraçando a sua história? Se a câmara, a junta de freguesia e o gabinete da administração pública têm verbas para pagar (e bem) passagens, alojamento e alimentação a vários grupos que saem da ilha, então também podem juntar esforços para realizar esta ação que satisfaria grande parte da população e não apenas um grupo restrito.

O que falta então? Apenas vontade e junção de esforços.

Vamos pôr mãos à obra? Este é o ano certo. É agora ou nunca.

Enviado por Denúncia Anónima.
Sábado, 27 de Maio de 2023
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