P alavra de honra que quando olhei para esta manchete da primeira página do Diário de Notícias imaginei que estava com pesadelos. Isto é frase que se escreva ou capa que se faça? Falamos de gente assustada e perdida, de gente que ainda traz nas roupas o cheiro do lume, de muita gente que vai perder tudo e faz-se isto? Raios partam!!!
A Fajã das Galinhas é só um dos inúmeros sítios de alto risco desta ilha onde abundam, com conhecimento e consentimento das autarquias, habitações que foram a alternativa por carências económicas impeditivas de viver em sítios mais seguros, mas são casas que concentraram significativos investimentos físico, social e financeiro, mas pelos quais não haverá qualquer compensação. E basta subir um pouco para dentro do Curral e encontraremos mais de uma mão cheia de situações semelhantes. O que significa que, potencialmente, o que hoje ali acontece pode explodir em muitos sítios. Este é o ensaio para futuras primeiras páginas?
Onde estão o escrúpulo, a sensibilidade, a solidariedade, a dignidade, devidos – a menos que já estejamos a caminho de ser um bando de gente sem sentimentos nem respeito – no tratamento de quem vê desaparecer o esforço de uma vida e a quem são roubados anos de trabalhos e luta? Onde estão, ou tudo se resume num cabeçalho sonante e miserável: “REALOJADOS DOS INCÊNDIOS VÃO PAGAR RENDA”?
E porque, ao fim e ao cabo, pertenço ao bando dos ‘anormais, incompetentes e canalhas’ gostava de saber qual o interesse ‘jornalístico’ desta manchete. O realojamento nem sequer acontece por causa dos incêndios – pode ter sido acelerado, mas já vem, pelo menos, do ano passado. Será um processo complicado, imagina-se – mas não começou agora. O que é que se pretende com esta primeira página para ‘informar’ um assunto que não traz nada de novo? Talvez o abandono definitivo do Curral das Galinhas mas então, que tal um título mais humanizado tipo “MORADORES DA FAJÃ DAS GALINHAS DEFINITIVAMENTE IMPEDIDOS DE VOLTAR A CASA”?
Fica o inegável e revoltante cheiro de um aproveitamento sensacionalista da desgraça alheia quando, por exemplo a 16 de Agosto teria sido bem oportuna uma primeira página esclarecedora: “ALBUQUERQUE ESTÁ-SE NAS TINTAS PARA O INCÊNDIO E CONTINUA AO SOL NO AREAL”. O DN optou por não fazer para não chatear o poder? É o que se conclui!
Mas agora estamos a falar de gente que não paira pela Quinta Vigia nem habita a Estrada Monumental. Estamos a falar de gente perdida no meio das montanhas. É outra coisa, claro!
Clara Sofia
Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 5 de Setembro de 2024
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