6 milhões para um filme na Netflix: as maravilhas do mar (e outras coisas que ninguém quer ver)


I maginem só: 6 milhões de euros, um financiamento generoso do governo regional, e o foco é um grande épico cinematográfico sobre os mares de todo o mundo, produzido pela Netflix para a Arditi. É de cortar a respiração, não é? Já conseguimos vislumbrar as imagens deslumbrantes: baleias a saltar graciosamente, cardumes de peixes a dançar em perfeita harmonia, os reflexos do sol a pintar um oceano cristalino... Mas esperem, e as ETARs (estações de tratamento de águas residuais) que não funcionam? Será que também ganharam uns segundos de glória no grande ecrã?

Seria quase poético. Imaginem uma sequência dramática: um drone que se aproxima de uma praia paradisíaca, revelando subitamente uma descarga ilegal de águas residuais a desaguar no mar. Que contraste cinematográfico incrível, não acham? Afinal, se queremos falar sobre os mares "de todo o mundo", porque não incluir a realidade que muitas vezes preferimos ignorar? As descargas ilegais, os microplásticos a flutuar como confetes de uma festa que ninguém pediu, ou, quem sabe, a majestosa visão de navios que despejam óleo como se fosse um brinde ao progresso. Será que a Arditi avalia estas aguas do mar do porto do Funchal? Terá coragem de apresentar os dados dessa investigação ao seu papá e mamã do governo regional?

Mas sejamos justos, 6 milhões de euros é um belo orçamento. Talvez haja margem para um segmento educativo sobre como as ETARs da Madeira deviam funcionar, mas não funcionam, tubagens entupidas e sistemas inoperacionais. Uma verdadeira ode à capacidade humana de arruinar o que deveria proteger.

E não vamos esquecer o tema "Aqui, nos mares que circundam o arquipélago da Madeira, testemunhamos não só a beleza natural, mas também o engenho humano na forma de descargas não tratadas. Porque, afinal, somos todos parte deste ciclo infinito entre poluir e fingir que não vimos."

No final, talvez possamos justificar o projeto com uma lição moral. Quem sabe, o filme pode servir como um alerta global – ou, pelo menos, um lembrete local – de que o verdadeiro desafio para os nossos mares não são apenas as ameaças naturais, mas também a incapacidade de gerir os recursos com seriedade e responsabilidade.

É importante reconhecer a criatividade do governo em transformar 6 milhões numa peça para a Netflix. É um pouco como reciclar plástico, mas ao contrário: pega-se em dinheiro público e transforma-se em algo que vai certamente flutuar algures na vastidão dos mares – ou, neste caso, do catálogo da Netflix. Lindo, não é? Quase tão lindo quanto um mar sem poluição... mas, pelos vistos, isso é ficção científica.

Enviado por Denúncia Anónima
Sábado, 30 de Novembro de 2024
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