Andebol na Madeira: o futuro está em jogo.


O andebol na Madeira atravessa um momento de grande incerteza. O Plano de Atividades 2024/2025 da Associação de Andebol da Madeira (AAM) reflete boas intenções, mas a verdade é que a estagnação impera, e a falta de ousadia está a empurrar a modalidade para uma zona de conforto perigosa.

1. Estrutura Montada, Mas Falta Alma Nova

Há esforço para manter a modalidade ativa, com iniciativas como o Mini Andebol, as seleções regionais e a formação de árbitros e treinadores. O Walking Handball tem sido uma boa aposta. No entanto, o plano revela uma estagnação camuflada de continuidade. “Dar continuidade ao que tem sido feito” é um convite à mediocridade. O andebol regional da Madeira arrisca-se a transformar-se num simples passatempo de fim-de-semana. A inovação, tal como a ambição, está ausente.

2. Arbitragem – O Calcanhar de Aquiles

Um dos maiores problemas do andebol na Madeira é a arbitragem. A AAM admite que este é um ponto crítico: há poucos árbitros, a qualidade é questionável e há dificuldade em atrair novos nomes. Se o jogo é mal apitado, o espetáculo desmorona-se. Faltam incentivos, reconhecimento público e formação motivacional. Sem isso, o andebol corre o risco de perder credibilidade e, consequentemente, o interesse do público.

3. Formação de Treinadores – Ainda à Moda Antiga

Fala-se de mais um curso de Nível I, válido, mas insuficiente. E quanto a formações internacionais, estágios com equipas de topo ou adaptação da pedagogia ao contexto atual, onde a geração de atletas está cada vez mais conectada ao mundo digital? O que se vê são tentativas de formar treinadores com uma mentalidade antiquada, a de 2005. O resultado disso? Atletas de 2005. Não basta abrir portas, é preciso abrir janelas para o futuro.

4. Clubes Fora do Funchal – A Eterna Promessa

No papel, o plano promete “criar condições para novos clubes, sobretudo fora do Funchal”. Mas como? Onde estão os detalhes? Prometer sem ação é um tiro no pé. O interior da ilha continua desportivamente abandonado. Sem um plano concreto de descentralização, as palavras são apenas vento.

5. Eventos de Mediatismo – Oportunidade Quase Desperdiçada

A Liga dos Campeões de Andebol de Praia em Porto Santo é uma oportunidade única. Mas, até agora, a estratégia para criar um verdadeiro legado parece inexistente. Onde está o plano para alavancar essa visibilidade e usar o evento como trampolim para o desenvolvimento da modalidade? Caso contrário, o evento ficará apenas no registo de uma foto no Instagram.

6. O Desporto Feminino: Onde Está?

Em um plano com 20 páginas, a menção ao andebol feminino é praticamente nula. Se a Madeira quer evoluir no desporto, é imperativo apostar no desenvolvimento equilibrado entre géneros. Investir no desporto feminino não é apenas uma questão de justiça, é uma necessidade estratégica para o crescimento da modalidade.

7. Visão Limitada, Pouca Ousadia

Uma das maiores lacunas deste plano é a falta de ambição a longo prazo. Não há metas claras, nem se fala de profissionalização séria, ou de uma liga própria. O andebol da Madeira precisa de uma visão ousada, de uma mentalidade de expansão, não de preservação.

Regulamentação AAM 2024/2025: Uma Gestão Burocrática e Punitiva

A regulamentação da AAM para a época 2024/2025 não é um guia de desenvolvimento desportivo. É um manual de multas, um relicário de sanções que revela mais sobre o autoritarismo da direção do que sobre qualquer intenção de promover ou apoiar o andebol.

1. Uma Gestão à Base de Multas? Logo nas primeiras páginas, é visível o foco: multas para tudo e mais alguma coisa. Clubes que não comparecem a jogos são penalizados em 50€ na primeira falta e 150€ na segunda. Até as crianças no Torneio de Minis estão sujeitas a penalizações. Onde está o incentivo à participação? Onde está o apoio logístico e a formação? Não há. Só vemos um sistema de castigo que mais parece uma estratégia para sugar dinheiro a clubes com poucos meios.

2. Ausência de Treinador? Multa! Sabias que se um treinador qualificado não estiver presente no banco, a multa começa nos 25€ e pode chegar aos 50€? Em vez de promover formação acessível, pune-se a precariedade. Isto é contrário ao espírito do desporto de formação, onde muitos clubes sobrevivem graças ao esforço de pais ou antigos atletas.

3. A Obsessão com a Disciplina das Seleções Regionais A participação nas seleções é obrigatória. Se um atleta faltar sem justificação, pode levar uma suspensão de 30 dias e ser afastado durante um ano. Como se estivéssemos a falar de um jogador profissional. Até lesionado, o atleta tem que ir ao local da concentração e “permanecer durante o tempo da ação”. Isto é desumano e ridículo.

4. Inflexibilidade e Centralismo O artigo final é um hino ao despotismo: “Os casos omissos serão decididos pela Direção da AAM”. Ou seja, se não estiver escrito, eles decidem como bem entenderem. Isto não é regulamentação, é absolutismo.

Conclusão: O Andebol Madeirense Está a Ser Sabotado por Quem o Devia Proteger

Não há planos de desenvolvimento, apoios aos clubes, nem uma palavra sobre ética, inclusão ou espírito de equipa. O que se vive na Madeira é uma tradição desportiva a ser afogada por um sistema caduco, fechado e que parece trabalhar contra os próprios atletas e clubes. Esta associação precisa de ser reestruturada, com uma visão moderna e inclusiva.

A época vai a meio, e se formos ler o plano de atividades e a regulamentação da AAM, a impressão que fica é que o andebol na Madeira está a ser gerido à base de autoritarismo e falta de visão. Em breve, vou sugerir alternativas para a época 2025/2026. O andebol da Madeira merece mais.

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