O meu texto é demorado, mas penso que interessante. Agradeço ao MO que me permitiu tantos carateres.
O lá a todos. Perguntei a mim mesmo o que pararia na Madeira se os russos cortassem os cabos submarinos que amarram na Madeira. Primeiro escolhi áreas e cada vez aparecia mais, depois pensei em casos dentro de cada área e também cada vez apareciam mais. A razão é muito simples, aderimos a um mundo digital e, apesar de se pensar em satélites, é pelos cabos submarinos que quase tudo passa. Não pretendo dizer tudo, mas terá a sua dimensão para quem anda distraído perceber.
Tem toda a lógica que, quem queira fazer mal às economias dos seus "inimigos", que pense em cortar os cabos submarinos e é aqui que vem à baila, em plena pré campanha para as legislativas nacionais em que estamos, a evidência de que não há debate sobre como proteger os cabos submarinos no nosso mar, até porque há tabu do PSD e do PS para as despesas militares que pretendem fazer. Na minha opinião, não era para satisfazer o senhor Trump, mas tomar responsabilidade sobre o que é nosso. Ficaremos muito mal vistos por ter um grande mar, e querer alargar, sem uma armada capaz. Temos estaleiros vamos ser ambiciosos. Por este prisma, alguns partidos de esquerda caem no ridículo quando perguntam se o senhor Putin chegará de tanque por Espanha. E por mar e por ar? Se para o mar é preciso armada, pelo ar precisamos de aviões e "Patriots".
Se os cabos submarinos que passam pela Madeira forem cortados, especialmente numa situação hipotética como uma ação hostil ou sabotagem, as consequências seriam muito graves, tanto para a região como para outros territórios dependentes desses cabos.
Rutura das comunicações
A principal consequência seria a perda ou severa limitação do acesso à internet e comunicações digitais. A Madeira está ligada ao continente europeu e ao mundo através de cabos submarinos de fibra ótica. Se esses forem cortados:
- Pode haver apagão total ou parcial da internet.
- As comunicações móveis e fixas seriam fortemente afetadas.
- Serviços dependentes da nuvem (como bancos, sistemas públicos, emails, etc.) podem falhar.
Impacto económico imediato
Empresas que dependem da internet para operar, desde hotéis a call centers, podem paralisar. Mas há muitos mais.
- O turismo, que depende de reservas online e pagamentos digitais, seria gravemente afetado.
- Transferências bancárias, pagamentos com cartão (terminais de venda) e até caixas multibanco podem deixar de funcionar. MB Way também.
- Caixas multibanco podem ficar fora de serviço.
- Transferências bancárias serão suspensas.
- Empresas que dependem da internet (restaurantes com apps de reservas, lojas online, etc.) fecham ou operam de forma limitada.
- Serviços online (carta de condução, registos, finanças, segurança social, etc.) deixam de estar acessíveis.
- Ensino à distância, plataformas online e aulas virtuais desaparecem.
- Plataformas de gestão escolar/universitária (inscrições, notas, pautas) ficam inacessíveis.
- Investigação científica ligada a centros internacionais fica inacessível.
- Email institucional, videoconferências e comunicações entre departamentos deixam de existir.
- Processos judiciais e administrativos eletrónicos são interrompidos.
- Hospitais, segurança (ligações e vigilância), aeroportos e outros serviços essenciais que usam sistemas ligados em rede param. A falha de comunicação pode comprometer até a resposta de emergência.
- Escolas, universidades e serviços administrativos entrariam em modo offline.
Saúde em especial:
Agora que se começa a digitalizar os hospitais na Madeira, quero dizer que os robôs cirúrgicos podem deixar de funcionar ou ficar inoperacionais se a ligação à internet ou à rede hospitalar for cortada, especialmente num cenário como o corte de cabos submarinos. Muitos robôs cirúrgicos, como o sistema Da Vinci, funcionam localmente dentro do hospital, mas estão ligados a redes internas e, muitas vezes, a servidores externos para atualizações de software, diagnósticos em tempo real, assistência técnica remota ou até gestão de dados clínicos.
Se a infraestrutura de rede cair, a funcionalidade do sistema pode ser severamente limitada ou até suspensa por questões de segurança. Muitos destes equipamentos dependem de comunicação constante com os fabricantes, especialmente durante cirurgias complexas ou quando há necessidade de suporte remoto. Sem internet, esse apoio desaparece e as cirurgias podem ser adiadas ou canceladas.
Alguns sistemas mais modernos usam algoritmos de IA, baseados em nuvens para auxílio cirúrgico, por exemplo, para deteção de tecidos, mapeamento em tempo real. Se não houver internet, essa componente de "inteligência" pode ficar desativada.
É evidente que se o sistema não oferecer segurança e protocolos... pára. Em caso de falha de rede, há protocolos de segurança que podem forçar o sistema a parar ou entrar em modo "safe" até a ligação ser restabelecida. É uma forma de proteger o paciente, mas isso significa que as cirurgias robóticas podem parar subitamente. Se os cabos submarinos forem cortados e a Madeira ficar sem acesso à internet e redes externas, os robôs cirúrgicos podem deixar de funcionar ou operar com capacidades reduzidas, pondo em risco procedimentos e obrigando os hospitais a regressarem a métodos tradicionais.
- Robôs cirúrgicos deixam de operar (como já falámos).
- Telemedicina e consultas remotas deixam de funcionar.
- Acesso a exames e diagnósticos em nuvem é bloqueado.
- Pedidos de medicamentos, farmácias interligadas e partilha de dados clínicos falham.
- Coordenação entre centros de saúde e hospitais pode colapsar.
Educação em Especial:
Os manuais digitais também param por dependência de servidores externos. A maioria dos manuais escolares digitais, usados no ensino básico e secundário, não está totalmente descarregada nos dispositivos dos alunos. Frequentemente, os manuais estão alojados nos servidores das editoras (como a Porto Editora, Leya, Areal, etc.). Cada vez que um aluno abre um capítulo, faz um exercício interativo ou acede a conteúdos complementares (vídeos, quizes, áudios), o sistema faz uma ligação ao servidor externo. Sem internet, sem manuais. Os manuais tornam-se inacessíveis, principalmente em tablets ou computadores fornecidos pelos programas escolares. Mesmo que o PDF base esteja disponível offline, os conteúdos interativos, correções automáticas e exercícios online deixam de funcionar. Os professores também usam plataformas como a Aula Digital, Escola Virtual ou outras para planificar aulas, projetar conteúdos e avaliar alunos. Tudo isso colapsa se os servidores das editoras forem inatingíveis por falta de ligação ao exterior. É pior do que a Covid. A Madeira ficaria isolada digitalmente, as aulas digitais ficariam seriamente comprometidas, forçando um regresso súbito e mal preparado ao papel.
Isolamento internacional
A Madeira, como ilha, depende fortemente de ligações digitais para se manter ligada ao mundo. Cortar esses cabos seria, na prática, cortar a Madeira do século XXI. As alternativas, como satélites, são limitadas e mais lentas, e não conseguem substituir totalmente a capacidade dos cabos submarinos.
Implicações geopolíticas
Tal ação seria considerada um ato hostil grave, com possíveis repercussões diplomáticas e até militares, especialmente se for atribuída a um Estado estrangeiro como a Rússia. Poderia também acelerar a militarização da proteção de cabos submarinos, já que são hoje infraestruturas críticas globais.
Transportes e logística
- Gestão aeroportuária (voos, check-ins, segurança, coordenação) pode sofrer atrasos ou falhas.
- Portos e sistemas de carga dependem de software e conexões em tempo real.
- Empresas de logística (entregas, rastreamento, encomendas online) podem parar.
- Sites como Booking, Expedia, Airbnb ou agências online deixam de funcionar localmente (hotéis e alojamentos não recebem reservas, nem atualizam disponibilidade).
- Cancelamentos ou alterações tornam-se impossíveis de gerir, criando caos logístico.
- Operadores de viagens deixam de comunicar com hotéis, guias ou transportadoras locais, causando falhas nos pacotes turísticos, excursões e transferes.
- Hotéis e alojamentos não conseguem responder a emails, mensagens ou chamadas VoIP (como WhatsApp, Messenger, Skype) de hóspedes que procuram confirmações, pedidos especiais ou ajuda.
- Softwares de gestão hoteleira (PMS), que controlam reservas, faturação, quartos disponíveis, podem deixar de funcionar se forem baseados na cloud.
- Cartões de acesso, chaves digitais ou apps de controlo de portas podem falhar.
- TPAs (terminais de pagamento automático) podem ficar fora de serviço, obrigando a pagamentos em numerário.
- Câmbios e conversões de moeda em tempo real deixam de estar disponíveis.
- Wi-Fi do hotel deixa de funcionar, afetando a experiência dos hóspedes, sobretudo nómadas digitais e turistas em trabalho.
- Sistemas de TV inteligente, apps de quarto, serviços on-demand (como Netflix, YouTube ou Spotify nos quartos) deixam de funcionar.
- Hotéis não conseguem comunicar com empresas de catering, limpeza, lavandarias ou transportes externos.
- Os turistas não conseguem usar Google Maps ou apps de mobilidade e localização.
- Os guias turísticos digitais, itinerários, apps de museus ou QR codes explicativos tornam-se inúteis.
- Os turistas perdem acesso a informações atualizadas sobre o tempo, horários de transportes, atrações, eventos.
- Apps de tradução, conversão de moeda e até consulta de sintomas de saúde deixam de funcionar.
- Sem Wi-Fi e internet móvel, os turistas ficam incomunicáveis com familiares e redes sociais, o que gera ansiedade e frustração.
- Os trabalhadores em “workation” ou nómadas digitais cancelam estadias por impossibilidade de trabalhar remotamente.
- Empresas e turistas evitam a Madeira se o problema persistir ou se for recorrente.
- Eventos internacionais, congressos, casamentos de destino podem ser cancelados ou desviados para outros locais.
- A Madeira pode ganhar fama de destino instável digitalmente, o que compromete o investimento estrangeiro e o turismo de qualidade.
- Empresas internacionais de turismo retiram pacotes ou voos sazonais, temendo disrupções.
- Sem acesso a internet, os turistas não publicam fotos, vídeos, avaliações ou feedbacks online, o que afeta a promoção orgânica da ilha.
- Reclamações públicas, quando a ligação for restabelecida, podem manchar a imagem da Madeira nas plataformas internacionais.
- Empresas de animação turística (mergulho, levadas, passeios de barco, parapente, etc.) perdem reservas e comunicação com clientes.
- Museus, parques temáticos e atrações que usam bilhética eletrónica, sistemas de marcação ou conteúdos digitais ficam inutilizados.
Media e comunicações
- Sites de notícias e rádio online ficam inacessíveis. Que alegria, o Madeira Opina desaparecia para censura total.
- Televisões locais com servidores externos ou cloud podem sair do ar.
- Redes sociais, emails, apps de comunicação (WhatsApp, Zoom, etc.) param.
Segurança e emergência
- Sistemas de videovigilância e centrais de comando que funcionam em rede podem ser afetados.
- Coordenação entre bombeiros, PSP, GNR, proteção civil pode falhar.
- Chamadas de emergência podem ser processadas com atraso.
Outras áreas críticas
- Turismo perde a capacidade de reservas online e contacto com operadoras.
- Sistemas meteorológicos e de alerta da proteção civil (tempestades, sismos, incêndios) podem ficar sem dados em tempo real.
- Empresas de energia e água com sistemas de monitorização remota podem perder controlo.
Ah, e a economia dos jogos de casino pela madrugada dentro ia pelas canas dentro. Deixem alguma coisa analógica! Quando o SESARAM foi hackeado foram pedir os "papelinhos".
O PRR para obras pensou num plano de contingência e redundância? Investiu ou atraiu múltiplas ligações submarinas para garantir redundância? Implementou sistemas de monitorização para deteção rápida de falhas e resposta imediata? Desenvolveu infraestruturas alternativas como ligações via satélite, que podem servir como backup em situações de emergência? Estabeleceu protocolos de emergência, para garantir a continuidade dos serviços críticos durante interrupções?
Imagino que a Madeira aproveitou a presença de Montenegro para falar disto...
Obrigado pelo vosso tempo. Pára tudo!
1 Comentários
Ainda acredita na narrativa de que foram os russos que explodiram o nordstream? Com tanta sapiência e verborreia, daria jeito checkar melhor ss fontes. De preferência outras para expandir a suma sapiência.
ResponderEliminarAgradecemos a sua participação. Volte sempre.